Desespero e impotência - falta de oxigênio em Manaus


 

Saber, imaginar ou atribuir que uma situação pode ser mudada, que, por exemplo, uma vida pode ser salva caso exista o que falta, e saber que não se dispõe disso gera impotência. Vivenciar a impotência diante de limite excruciante - a morte do ente querido - destrói toda possibilidade de solução. Essa destruição de possibilidades é a matéria prima do desespero. Tenta-se qualquer coisa, paga-se qualquer preço, se faz do impossível, o possível. Essas vivências reconfortam, pois escondem os limites ao criar possíveis soluções e amortecedores. Não questionar o que causou o desespero, a impotência, o querer resolver de qualquer forma o que aflige, é não ver todos no mesmo barco afundando. É o estouro da boiada, é a saída desenfreada do cinema em fogo, é a busca de salvação a qualquer preço, é o "humano, demasiado humano" como falava Nietzsche. É compreensível, apesar de ilusória, uma ação imediata, quase um reflexo para sobreviver, para respirar. Atitudes apoiadas em ilusões aplacam a vivência da impotência, embora estruturalmente apenas camuflem os processos que as desencadeiam. Não basta salvar, é preciso mudar. Soluções imediatistas configuram ainda mais o caos, o terror. Salvar a própria pele é o devido, é o necessário, porém é a matéria prima que mais tarde a todos ameaça: exacerbação do individualismo, das próprias conveniências e vantagens em detrimento do coletivo. Quando a ordem social destrói e ameaça, buscar soluções individuais de salvação é uma maneira de cumpliciar com o que esmaga, com o poder que aliena e mata.

 

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