"Liberdade é a compreensão das necessidades" - dizia Hegel
Somente por meio de questionamentos, indagações, esclarecimento de dúvidas e divisões é que se percebe limites e dificuldades. Perceber os limites e a eles se dedicar abre horizontes ao desfazer os nós que aprisionam. Essa mudança de configuração cria mudanças perceptivas responsáveis por novos entendimentos e questionamentos. A continuidade e reversibilidade dessas vivências apontam sempre para novas direções, é a descoberta de possibilidades que configura o que Hegel dizia: "liberdade é a compreensão das necessidades".
No universo político social, quando se pensa que o ponto de apoio é também o ponto de opressão, novas compreensões e comportamentos são desencadeados: o medo desaparece ou o medo aumenta. Nesses contextos se descobre que "a união faz a força". O grupo é o existente fundamental para se desenvolver a mudança que possa ocorrer, as mudanças que possam ser operacionalizadas em reivindicações e consequente aquisição e manutenção de direitos sonegados e ameaçados. Compreender os pontos de contradição é subtrair-se dos alienantes, é libertar-se dos enganos, dúvidas e medos. É necessário livrar-se do "canto das sereias", amarrando-se aos postes da realidade que são pilares edificadores de objetivos, de não dispersão, que configuram o ir à luta coeso e inteiro, sem se perder no imediatismo da satisfação contingente de necessidades e aquisição de vantagens que apenas mascaram e retardam contradições. As contradições estão sempre apontando a saída: é o fio de Ariadne que tudo libera e resolve.
Psicologicamente, estar em conflito, ansioso sem saber o que fazer cria desespero e angústia, estados geralmente escondidos, aliviados por meio de esperança e medo. Voltar-se para o passado, evitando o temido ou se apoiando no acontecido solucionador; ou jogar-se para um depois no qual tudo será realizado; ou ainda, no qual só existem ameaça e aridez, são maneiras de estruturar polaridade. Esse ir e vir é comprometedor. É a criação de balizas, escaninhos e gavetas onde tudo se organiza, se perde e se nega. As situações problemáticas e angustiantes deixam de significar, resumindo-se no aguentar ou não aguentar. A expectativa cria compromissos e esses, ao estabelecer critérios e modelos, amarram, aprisionam, criando limites. A radicalização da situação estabelece o ser ou não ser, o ter ou não ter, o existir ou sobreviver. Negando-se como possibilidade, totalmente submerso nas necessidades, o indivíduo se angustia, se deprime, se aliena, se robotiza.
O processo terapêutico, enquanto antítese e questionamentos ao que neutraliza, ao que compromete e divide, é personalizador à medida que, por meio da constatação de limites, da compreensão de necessidades, liberta e faz perceber a infinita possibilidade diante de si, por estar no mundo com os outros.
Perceber limites, aceitar necessidades, medos e angústias é a maneira de iniciar mudança, é a maneira de sair de apoio-opressão, de sair da imobilização que desvitaliza e compromete ao sedar, consequentemente aniquilar. Vida é movimento, relacionamento é dinâmica, tempo é continuidade. Liberdade é não estar oprimido pela satisfação de necessidades, significativamente percebidas e configuradas.
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