A bondade

 



Sentir-se bondoso é uma das reconfigurações de dinâmicas psicológicas criadas por novos posicionamentos. Como diz o cantor Chico César: "Deus me proteja de mim / E da maldade de gente boa / Da bondade da pessoa ruim..."

Qualquer posicionamento quebra dinâmica. Quando isso acontece surge comprometimento que pode passar a ser pódio, bunker ou trincheira de segurança ou de destruição, no mínimo de subjugação por mais bem intencionada que seja.

As trincheiras da bondade geralmente são construídas em comunidades religiosas como uma forma de atrair adeptos ao prometer o bem e o melhor desde que todos se submetam e reine bondade: devoção, obediência, sacrifício, dedicação à divindade e ao sacerdote. A bondade institucionalizada também caracteriza e caricatura as várias faces do egoísmo e da vaidade. Instituições de caridade, orfanatos, abrigos de idosos são exemplares para mostrar as bondosas faces que o mal pode expressar.

Ser bom, ser bondoso é uma senha quando essa característica é instrumentalizada em função do estabelecimento de relacionamentos, direitos, privilégios, acessos e justificativas. A bondade que tudo perdoa, como por exemplo os pais bondosos, os filhos magnânimos, podem, quando posicionados em suas dinâmicas relacionais, realizar e satisfazer desejos egoístas e impeditivos do desenvolvimento de contradições processuais e esclarecedoras, propiciando o surgimento de outras contradições arbitradas como protetoras e cuidadosas. 

Os sectários fiéis que, para defender suas crenças, agridem os que consideram infiéis, a mãe que treina e destrói seu filho para que o mesmo possa ser acompanhado e cuidado, o pai que ensina os perigos do mundo ou os perigos do sexo a suas filhas são algumas metamorfoses da maldade, mascarada sob a forma de bondade. 

As aparências enganam. As problemáticas são infinitas e geralmente mal e bem transformam-se um no outro e os posicionamentos dificultam, contingenciam relacionamentos e dinâmicas.
 

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