Programações do espontâneo
Tudo que é fugaz é instantâneo, assim como tudo que é espontâneo também é instantâneo. Respirar, em certo sentido, nos resume enquanto seres vivos. Ser com o outro para o bem, para o mal, é outro instantâneo definidor. Respirar resume nossas imanências biológicas, assim como estar, viver, ser com o outro nas situações, enquanto passado, presente e futuro também nos resume.
Preparar instantaneidade é destrutivo, desde que isso significa negar o próprio processo espontâneo. Fundamentais são os contextos que nos estruturam e constituem. Nesse sentido, o que não é fundamental pode ser programado quando se deseja criar realidades não existentes mas que aparentam representar autenticidade e legitimidade.
O ser-no-mundo é o existente que propicia existir. Quando isso é submetido a condições outras independentes de suas próprias configurações, surge o controle, surge por exemplo o outro que vai ajudar e resolver vicissitudes. Tudo então passa a depender e a ser explicado por meio de outras vivências, outros detentores processuais que salvam ou aniquilam o estar no mundo. Depender de outras condições, além dos dados espontaneamente configurados é ainda propiciar instantaneidade. É artificial, ou seja, o natural neutralizado que começa a se impor. É a regra, a exceção, o acerto, o desacerto. São problemas, são as condições normais de temperatura e pressão (CNTP) que tudo determinam, ou que não mais esclarecem, e assim o instantâneo vira impasse que deve ser contornado ou neutralizado segundo outros objetivos e protocolos, agora distantes das possibilidades: é o necessário que passa a prevalecer e o pragmatismo domina.
Os processos e objetivos são transformados, passam a imperar o por, ou o para e despreza-se o como, que é determinante processual da instantaneidade, do espontâneo. O espontâneo programado é buscado e assim se realizam objetivos que suprem dificuldades, negando falências e acertos.
A mudança, a cura, a transformação podem ser instantâneas quando configuradas nos processos que as estruturam, e são controles programados quando dependem de outras ordens diferentes das que as estruturam. É o viver para, o viver por, bem diferentes do viver que expressa encontros definidores de chegadas, de partidas, de mudança. O a priori invalida espontaneidade quando faz tudo confluir para o determinado antecipadamente.
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