Certezas devastadoras e imobilizadoras
De repente fica claro como desfechos desagradáveis, uma morte ou a perda de uma gravidez, por exemplo, são vivenciados como inevitáveis. A vivência da impotência após a revelação, a descoberta do que se temia, pode ser imobilizadora.
A certeza é sempre compacta, não deixa espaço para tentativas de mudança, entretanto, como se pode ter certeza do que não ocorreu? Como não se tentar mudar o curso do que pode ocorrer? Certas revelações quando feitas antecipam processos, estabelecendo também impotência. Nesse contexto, normalmente se pensa que não há o que fazer, não há o que tentar. As certezas antecipadas funcionam como: “se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”. Não há tempo, não há espaço. Resta esquecer ou esperar.
Quando o que era antecipado ocorre, a impotência permanece, e às vezes é substituída por culpa, que é a tampa da impotência. A omissão em relação ao outro, em relação aos processos que estão ocorrendo é responsável pela estruturação de culpa. Frequentemente vemos isso, por exemplo, nas vivências de omissão de cuidados ou de traição entre casais, entre pais e filhos, entre amigos, que estabelecem atitudes compensatórias às traições como uma maneira de substituir ausência e amor divididos.
Saber que não se faz ou não se fez nada, que se omitiu por não ter como agir, aceitar essa realidade, neutraliza possibilidades de deslocamentos, de culpa, pois se percebe a impotência diante do que ocorre e se aceita o corte, a separação, o distanciamento. Nesses casos nos quais impera a realidade - do que é possível fazer - a impotência é uma mera resultante de processos, bem diferente de anátemas configuradores de destruição, incapacidade ou desamor.
Nada há que imobilize mais do que a impotência, tanto quanto nada há de mais dinamizador quanto a impotência quando aceita e questionada: é diálogo, é mobilização.
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