Luta por poder e valorização
Quando se coloca a variável de merecimento as coisas se bifurcam, se dividem e se complicam. Por exemplo, um lugar ao sol todos têm, todos merecem. Ocupar um lugar no espaço – estar debaixo do sol – é o que caracteriza a vida nesse nosso planeta. O uso figurado, valorativo dessa realidade - um lugar ao sol - aponta para situações de ambição e ganância, ou desamparo e justiça. Quem almeja o lugar ao sol pode estar na luta para ser entronizado, valorizado, tanto quanto pode ser a desesperada busca de poder apenas colocar os pés no chão.
Desde o desespero de conseguir cura para doença que impede o pôr os pés no chão, até a luta pela recuperação do chão solapado (terras roubadas, casas invadidas, países dominados...), o lugar ao sol é a legítima procura de exercer o que é devido e próprio. Crianças criadas para ser objeto de sevícia, para trabalhar, mendigar e trazer dinheiro para casa; mulheres vendidas a redes proxenetas; cães treinados para roubar, para competir e ser metralhados, tudo isso exemplifica como o natural e genuíno é corrompido, negado.
Lutar pelo lugar ao sol pode ser também, e geralmente é, fruto de ganância, de querer significar por se sentir manchado, inferiorizado, sem uma marca definidora de sucesso e vitória.
Um lugar debaixo do sol, pisar no chão, poder andar, movimentar é exercer vida, é explicitar possibilidades. Quando isso é negado, o indivíduo é destruído de diversas maneiras: é a criança medrosa, é o adulto submisso, por exemplo. Quando é transformado em objetivo de vida, essa inversão configura a busca de sucesso e de reconhecimento que vão redimir o não conseguido durante toda a vida.
Essa busca cria os massificados, sobreviventes que procuram ampliar as próprias condições de vida, figuradamente buscam o lugar ao sol e sempre “roubam” um pedacinho do lugar do outro, além de inventar mentiras para justificar o jogo. A esperteza inaugura novas configurações, instalando novas terras, novos sóis. Querer o destaque é uma maneira de negar a igualdade, ou ainda, de coloca-la em novo plano.
Todos somos humanos, somos iguais e temos um lugar ao sol. Quando isso é buscado ou negado surge desumanização sob forma de escravidão, opressão, exploração, utilizações que vão desde o uso de animais até o de pessoas. Para mudar essa perspectiva, para que não exista luta por um lugar ao sol teríamos que questionar e agir nas psicoterapias, nas famílias, nas escolas, nos grupos, na sociedade, mudando assim, esse paradoxal distópico.
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