Queixas e reivindicações

No processo da não aceitação é comum a desconsideração dos limites do próprio contexto, é comum a discussão sobre estar ou não reduzido a situações limitadoras, redutoras e empobrecedoras da vida, das oportunidades, da falta de dinheiro etc. Esta não aceitação é geralmente escondida e blindada por imagens construidas para demonstrar capacidade e tranquilidade. Imagens que quando rompidas por algum acontecimento de perda, revelam seres reivindicadores e vitimizados.

Um frequente exemplo disto é quando se adoece, quando se perde alguém ou alguma coisa, se começa a exigir direitos, reivindicações geradas pelas perdas. Mães, por exemplo, quando depois de uma vida de frustrações e deslocamentos, adoecem, exigem cuidados por parte dos filhos. O provedor familiar, impossibilitado de trabalhar, controla ajudas e participações - exige.

Vítimas e sacrificados são comuns; queixas e lamentações frequentemente conseguem cuidados e atenção. São vistos como merecedores de atenção; é a retribuição necessária de tudo que se acredita ter feito pelos que lhes são próximos. De negociação em negociação as regras são mantidas, os preços pagos. Neste panorama o importante é merecer, é fazer jus e amealhar condições para retribuir, pagar e ajudar a fim de não ser prejudicado.

Quando se vitimiza, se consegue ser olhado, cuidado. Esta crença mantem as alienações e dependências, gerando também desespero, carência e raiva quando não se consegue ser atendido.

Os espectadores do processo ou são alienados pelas demandas ou se culpam, outra forma de vitimização imobilizadora. Assim os posicionamentos são mantidos e a dinâmica do ser no mundo com os outros é submetida a esquemas de deveres e regras.

Enfrentar as próprias contradições é a única maneira de recuperar a dinâmica e abandonar o posicionamento vitimado.





"As correções" - Jonathan Franzen
"O som e a fúria" - William Faulkner
"Traité de savoir-survivre par temps obscurs" - Philippe Val

verafelicidade@gmail.com

Comentários

  1. Ótimo texto, Vera.
    Adorei ver a culpa como "outra forma de vitimização imobilizadora".
    Bjs.

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    Respostas
    1. Exato, Iona. Falei de uma outra forma de configurar a impotencia. A culpa é impotência; nos deslocamentos as pessoas se preferem culpadas `a impotentes. Bjs

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