Malabarismos

Todos que lidam com a fé, o medo, os desejos e frustrações, sabem como enviesar ângulos para criar distorções responsáveis pelo estabelecimento de confiança, certezas e crenças em relação a mediadores de situações a atingir; agem como prestidigitadores, mágicos para exercer sedução e enganos.

Fazer tudo convergir para o que se percebe ser o desejo do outro é uma das maneiras mais eficazes de criar novas configurações responsáveis por inseguranças, tanto quanto, por certezas enganadoras.

Distorcer, às vezes, cria ilusões responsáveis por enganos, que viram certezas, verdades inquestionáveis. Neste universo são costuradas mentiras e fabricadas lendas à salvo de qualquer teste verificador/esvaziador; não importa o que é, mas sim, o que se pensa ser, tanto quanto, pouco significa estar enganando ou iludido, o que vale é sonhar, ter esperança - um dos pilares onde malabarismos e trapaças se desenvolvem. Dos heróis nacionais aos apoiadores individuais, da proliferação de religiões às aspirações sociais de grupos reivindicadores, são inúmeros os exemplos.

Tudo alcançar é um ideário onde grandes frustrações são ancoradas e assim, trapaceando, iludindo-se e iludindo se adquire hábitos mantenedores destes propósitos, o esforço legitima as ações, pensa-se que as dificuldades serão resolvidas, o ânimo é inquebrantável.

A consistência e persistência do presente, a nitidez do vivenciado é transformada em horizontes dúbios. Nas nebulosas escorregadias, só o malabarismo, a trapaça se mantém; ela não cria discordância, não estabelece conflitos, pois está ancorada em dubiedades. Ao sabor das ondas, em função destas instabilidades, a necessidade de apoios é constante. Estabelecer sistemas de proteção e apoio é o que importa. Dependências, apegos, impasses, tudo conflui para o estabelecimento de poder, ferramenta necessária para "fincar o pé" no conquistado, na fluidez domada.

Transformar o engano em verdade, o dito em não dito, o esperado em conseguido, é a grande transformação que aliena ao criar poderosos chefões, seja do crime, da política ou da vida familiar e afetiva.
















- "Uma relação tão delicada" de Domenica Ruta
- "Modernidade e ambivalência" de Zygmunt Bauman


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