Questionar

Frequentemente se pensa em questionar como sinônimo de perguntar. Na Psicoterapia Gestaltista, questionar e perguntar não são sinônimos, referem-se a situações diferentes.

Entendo questionar como sendo a fala, e até mesmo a pergunta, que resulta da globalização das inúmeras variáveis que interferem em um comportamento, em uma motivação. Desta forma, o questionamento permite sempre percepção do que não se percebia, do que era Fundo, do que era contexto estruturante da motivação, do que era estruturante do comportamento. Consequentemente, através de questionamentos são estabelecidas antíteses. Pensar em questionamento como sinônimo de pergunta é pontualizar, parcializar processos. Para o posicionado em zonas de conforto ou de necessidade é difícil apreender configurações relacionais, pois os momentos principais de seu dia-a-dia são esgotados em ordens convergentes ou divergentes. As reduções binárias - em função dos autorreferenciamentos de alívio/dor - impedem a apreensão das dinâmicas relacionais e torna tudo pontualizado. A vivência em linha reta subtrai diversidade, subtrai nuances, tanto quanto possibilita ajustes e adaptações desumanizadoras.

Toda pergunta possibilita respostas, mas não necessariamente questiona, nem esclarece, nem faz pensar nos estruturantes relacionais dos aspectos comportamentais motivantes do que é perguntado e do que é respondido.

No universo da sobrevivência, a globalização que permite o questionamento inexiste, pois neste universo tudo é aplacado e minimizado em função de facilitar as necessidades imediatas e, portanto, a pontualização se impõe: cortar, separar antecedentes, separar relações e evidências de suas redes estruturantes, tratá-los como isolados, como significados absolutos, indenes a quaisquer processos. Esta divisão estabelece o medo, a despersonalização, a alienação, tanto quanto transforma relacionamentos em pontilhados, insinuações de possibilidades, configurados para ser interceptados por propósitos que nada significam, salvo preenchimento de dúvidas ou certezas, omissão e participação manipuláveis.

Só é possível questionar quando se apreende as imanências contraditórias responsáveis por divisão, conflitos e acomodação, que destroem a alegria e o bem-estar.




“Individualidade, Questionamento e Psicoterapia Gestaltista” de  Vera Felicidade A. Campos


verafelicidade@gmail.com

Comentários

Os mais lidos

Polarização e Asno de Buridan

Oprimidos e submissos

Sonho e mentiras

Formação de identidade

Zeitgeist ou espírito da época

Mistério e obviedade

Misantropo

A ignorância é um sistema

“É milagre ou ciência?”

A possibilidade de transformação é intrínseca às contradições processuais