Empréstimo e insatisfação

Querer ser considerado, querer significar faz com que as pessoas ultrapassem os próprios limites de sua condição social e econômica. Este desejo, sempre realizado à custa de limites ampliados, prefigura o conhecido “jeitinho”, a improvisação que se espera que dê certo. Casa de penhores, casa de aluguéis (roupas necessárias às festas que se quer ir, mas não tem as peças exigidas ou pretendidas), empréstimos, pedidos de ajuda a amigos, tudo vale para que se consiga realizar os objetivos de não faltar, não falhar diante de compromissos e oportunidades que se oferecem.

Agir fora da própria realidade, dos próprios limites, para marcar presença, para ajudar o outro, é sempre indicativo de metas, culpas ou medos. Os gastos além das próprias condições financeiras, que são feitos pelas famílias para formatura e casamentos dos filhos, por exemplo, são sempre denunciadores de frustrações e compromissos com aparência, considerados vitais. São também investimento, um marco para nova vida do formando, dos nubentes.

Buscar ser aceito através do que propicia ou pode propiciar, além de revelar as não aceitações que povoam o cotidiano, demonstra o esforço, o empenho para manter referências e considerações que podem significar segurança e perspectivas nas realizações e empreendimentos futuros.


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