Participação e contemplação

Estar totalmente vivenciando o presente é a forma de contemplar, isto é, de estar imerso no instante que se eterniza, que continua pela participação. Não há depois, embora haja antes. A continuidade que desemboca no presente, no instante, é o anterior agora congelado no presente totalmente vivenciado. Não há anexações, nada é segmentado, tudo realiza dinâmica. Este absoluto é conseguido pela continuidade do relativamente congelado, imerso na apreensão da totalidade sem direção, sem confluência polarizante. É o momento mágico da contemplação no qual o indivíduo e o contemplado são unificados.

Esta parada abrupta da dinâmica relacional é quase o cancelamento da memória, do passado, pela atualização totalizante da mesma. Não há depois, o antes também foi congelado no agora. Desaparecem dúvidas, medos, ambiguidades. Nada mais existe que não seja participação. Quando isto acontece, contemplação é estabelecida e a descoberta do novo se impõe; é percebido tudo que faz cancelar as divisões, as ambiguidades. No presente se realiza a eternidade, a participação é a contemplação de infinitas possibilidades, onde tudo é contínuo e realizado.

Bem-estar, tranquilidade resultam destas vivências nas quais as possibilidades fluem e as necessidades e contingências desaparecem. Finalidades, objetivos, dúvidas, enfim, os propósitos de futuro exilam o presente da continuidade, fazendo com que participação e contemplação não se encontrem, justificando assim o que se pensa ser suas características antagônicas.

Participar é contemplar, é a vivência do presente sem divisão, sem descontinuidade estabelecida por referenciamentos em passado ou futuro. Este momento, esta igualdade é difícil, pois sempre estamos com a priori ou expectativas que descontinuam, dividem nossa participação, impedindo imersão no que ocorre, impedindo contemplação.


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