Deveres

Todo sistema, do social ao familiar, estrutura, impõe e possibilita regras, deveres, direitos. É um processo resultante da própria estrutura dos sistemas, entretanto, transgressões, alternativas podem modificar e minar esta configuração relacional. Quando se insere ordem, demandas e configurações alheias à estrutura, surge um sistema de convergência, obturador do existente, ou no mínimo dispersor das ordens estruturadas.

Famílias se organizam para a paz, tranquilidade de vivências entre seus membros, mas quando é colocada a ideia de que paz e tranquilidade só se consegue sendo igual às famílias que têm muito dinheiro, muito poder, esta colocação cria uma mudança: não mais se vê paz e tranquilidade pelo que se vivencia, mas sim pelo que se consegue: dinheiro, poder. Este novo referencial gera novos valores, novos deveres, alheios às estruturas daquele sistema anteriormente estabelecido. Ser o melhor, o mais rico, o mais poderoso, é o novo objetivo e assim as configurações anteriores são desprezadas, surgem novas regras; pagar contas por exemplo, é considerado um ato tolo, o mais eficaz é comprar uma boa roupa para impressionar amigos e conseguir melhor salário, ou ainda, tentar a sorte nas “patinhas dos cavalos”, no turfe. Conceitos éticos são modificados, não importa o que se faz, nem como se faz, mas sim o que vai se conseguir.

Toda vez que deveres, regras relacionais são substituídas por regras alheias à sua estrutura, surgem danos, massacres, destruição. É assim nas ditaduras: “tudo pela segurança do país”; é assim na política: “tudo pelo social”; é assim na família: “tudo pela nossa ascensão social e econômica”.

Regras e deveres são libertadores ao indicar e estruturar possibilidades e limites, e são alienadores quando resultam de cópias realizadas pelos anseios e metas de realização.


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