Solidão e suas implicações



Solidão é o tema preferido dos talk shows, programas de autoajuda, reuniões de amigos, reuniões de apoio à terceira idade etc. Ter que evitar a solidão ou se preparar para ela ou descobrir os encantos da mesma é o leitmotiv de inúmeras pessoas.

Somos seres em relação, nunca estamos sozinhos, tanto quanto por sermos enquanto relacionamento, sempre estamos sós. A questão da solidão só se coloca na dimensão espacial e aí sempre somos sós: a matéria não ocupa o mesmo lugar no espaço.

Vivencialmente - enquanto temporalidade - nunca estamos sós. O outro, os outros sempre estão conosco seja no presente, seja no passado pela memória, ou no futuro pela antecipação do que vai se realizar ou complementação do que se realiza.

Estar só é estar sem malhas relacionais, é uma abstração que não subsiste. Não existe solidão, sempre estamos com o outro, com os outros participando, omitindo, amando, odiando.

Estar entregue a si mesmo é quase um desprendimento, um artifício, como pôr entre parêntese todas as configurações existentes. Tal esforço, tal artifício subsiste apenas como possibilidade, jamais se realizando como contingência. Essa transformação é impossível, salvo quando se nega todas as vivências e situacionamentos.

Negar o vivenciado é negar história, trajetória, referenciais, é ficar solto no espaço, um ponto sem rede. Essa abstração, esse fazer de conta é atingido pela onipotência e desse modo, e só assim, podemos sentir solidão. Solidão não é condição de ser humano, nem de seres vivos. Perceber e aceitar isso é ratificar sua humanidade. Negar isso é desumanizar-se ou tentar mudar suas possibilidades e necessidades ao retificá-las em função do desespero, medo e omissão.



Comentários

  1. Interessante abordagem: solidão x seres humanamente compreensíveis, históricos, atávicos, genéticos. Abraço.

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  2. Excelente postagem.
    Vivemos um tempo onde a solidão está cada vez mais presente na vida de todos.

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