O outro como obstáculo



Não conseguir perceber o outro enquanto ele próprio cria um sistema de utilização do mesmo. Nesse sistema as pessoas são úteis ou são obstáculo. Como obstáculo têm que ser eliminadas, destruídas. Não é João ou José no caminho, é um monte de coisas que tem de sumir. As violências - psicopatias resultantes do autorreferenciamento - demonstram isso. Autorreferenciados esses  indivíduos não percebem que estão com outros seres humanos, se percebem rodeados de coisas que ajudam e satisfazem desejos ou atrapalham. Justificam-se pensando: “não matei ninguém, apenas retirei o que obstruía meu caminho".

Além da violência dos extermínios, temos o roubo, apoderando-se do que precisa - para usar ou vender - e temos também as invejas e ciúmes, gerando destruição dos outros à volta.

Viver sozinho, transformando o outro em apoio ou obstáculo estabelece violência, estabelece medo, estabelece desejos e motivações nas quais o semelhante existe como peça da engrenagem. O indivíduo se percebe com possibilidades e dificuldades, percebe que tem que ampliar seu espaço vital para conseguir. O outro pode ser o possibilitador do “puxadinho”, pode ser o próprio “puxadinho” que amplia sua construção, seu espaço vital. A busca de espaço vital já decorre de uma visão oprimida e opressora, de uma violência que tudo destrói e coisifica.

Buscar o melhor para satisfazer o desejo não aplaca o medo e pode embaralhar pistas - é o que se faz quando o outro é transformado em massa de manobra.

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