Vida para depois (2)



Alguns indivíduos, como formigas operárias de construção, amealham e organizam o cotidiano em função de conquistas para, um dia, utilizar esses resultados.

Postergar, querer deixar a vida para depois gera desespero, frustração, tanto quanto pessoas esperançosas e cheias de ânimo. Acontece que esse processo mecaniza, deixa rígidos os que ficam preocupados em realizar, em conseguir o bom e evitar o mal. Chega o dia em que processos de construção e expectativas se realizam: o casamento, a formatura, a aposentadoria e o que se conseguiu não é mais massa de manobra, passa a ser impedimento, obstáculo que deve ser transposto para se viver feliz e bem. O casamento, por exemplo, trouxe responsabilidade e situações que impedem o que se queria realizar no futuro, a profissionalização obriga a novas construções e na aposentadoria tudo foi conseguido, não é necessário mais trabalhar, entretanto falta perna, falta ar, falta vigor. A partir de então as construções passam a ser realizadas em outras áreas.

Deixar para depois é perder o fluxo, é alienar-se de si mesmo e dos processos. O comportamento de escolher entre agora e depois já indica ambição, medo e inveja. Essas atitudes pontualizam e comprometem o estar no mundo.

Quebrar o fluxo, sair da corrente é se alienar dos processos, criando ilhas de fantasia, sonhos que não se cumprem. São estorvos da imaginação, são obstáculos ao real, ao vivido e processado. Os próprios critérios de conseguir e não conseguir são alheios ao estar no mundo com os outros e consigo mesmo. É a cogitação avaliadora que polariza medos, ambições, justificando-as e tentando colocá-las em outras ordens estruturantes.

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