Educação e alienação




Os processos educacionais, por definição, são fundamentais para o indivíduo à medida em que o habilitam para estar no mundo com os outros.

Educação é um processo basicamente proporcionado pelo outro e assim é representado pela família e pelos parentes. Chegar à escola é encontrar um prolongamento desse processo, ou, às vezes, sua obstrução pelo antagonismo aos valores familiares. Famílias estabelecidas em critérios de disponibilidade, individualidade e autenticidade, de repente têm seus filhos esbarrados em escolas conservadoras e discriminatórias, por exemplo, onde se ensina técnicas, se ensina a ler e escrever, mas também são acentuados conteúdos alienadores que precisam ser neutralizados pela família.

Necessário preparar o filho para viver esse antagonismo não esperando que a escola individualize, sabendo que ela pode polarizar divisão, enfraquecendo critérios de autonomia e liberdade. Como Ivan Illich falava, as escolas que não se baseiam em convívio e autonomia, são manipuladoras, hierárquicas, subjugadoras e geralmente defasadas no tempo.

Não se pode esperar formação individualizada dada pela escola, é necessário que isso já tenha sido feito pelas famílias, que, por sua vez, geralmente são vítimas, são formadas pelas escolas alienantes. Nesse sentido a família cria preconceitos e assim procura escolas compatíveis com os mesmos, ou ainda, por total insuficiência de recursos, coloca o filho onde existe vaga, passando, desse modo, a reproduzir valores, verdades e mentiras do sistema no qual a escola está estruturada.

Na Alemanha nazista, por exemplo, toda escola ensinava a importância da autoridade e da luta pela vida eterna de seus líderes! Os regimes de exceção, as ditaduras - com vieses políticos e religiosos - têm escolas focadas na manutenção de seus sistemas. Aqui fica evidente que a escola é o farol, direciona o que se quer manter, ela é como um curral. É uma ferramenta de adaptação, é um obstáculo. É ainda de Ivan Illich a afirmação: “Escola é uma agência de propaganda que faz você acreditar que você precisa da sociedade como ela é”.

Mas a escola pode também ser uma plataforma que lança luz para outras dimensões. Necessário sempre considerar isso quando se coloca uma criança na escola. Famílias preconceituosas, alienadas e culturalmente despreparadas podem ter seus filhos transformados, questionando o existente, caso as próprias contradições do sistema econômico e cultural permitam novas visões. O parisiense “proibido proibir” de 68 transformou minorias, tanto quanto despavimentou ruas e preconceitos.

Atualmente, muitas famílias vêem a escola como brevê, o título que possibilita manutenção e convívio com a elite, por exemplo, como o primeiro passo para conviver com ricos, seus semelhantes, e não com pobres. Esse processo é aniquilador do que é considerado ensino edificante, que vê a escola não como uma instituição, mas a escola como um ambiente, uma rede de informação que pode também ampliar horizontes, viabilizando realizações. Aprender a ler, a contar, a conviver com o outro são processos fundamentais, mas já são marcados, programados, super dimensionados pelas famílias.

A escola deve ser percebida como extensão de teses e antíteses e assim ela pode ser dinamizada para outros referenciais, o que só é possível quando existe questionamento a sua função educadora.

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