Humilhação




Ser humilhado e sentir-se como tal implica em constatação e questionamento ao que humilha. Sem essa atitude, sem questionamento, não se vivencia a humilhação.

O indivíduo totalmente submisso a suas necessidades, vivendo em função de aplacá-las, sente por perder o que tem ou o que quer conseguir, pouco importando ser ou não humilhado - ele não tem essa vivência de ser humilhado - ele vivencia apenas o que a sua submissão lhe permite: medo, raiva, ameaça e necessidade de contornar. Na dimensão sobrevivente se vivencia o começo ou o fim, não se distingue o que humilha. O que interessa é abocanhar o que lhe é dado, o que lhe é permitido. Esses aspectos de submissão em função das próprias necessidades são o que criam o rebanho. Segue-se o condutor, não importa se bom, se mau, se benéfico ou nefasto. A questão é seguir para conseguir o que se acha que vai melhorar a vida.

Psicologicamente, sentir-se humilhado requer certa altivez, discernimento criado pelo dizer não ao que o destrói, mesmo que o alimente. A outra face da moeda, a dignidade, é um ato tão desvinculado dos contextos apoiadores que não existe no universo da submissão. Nesse mundo da submissão o que se discute e procura garantir é o pão diário, o ponta-pé que doa menos, os mitigantes da dor, pouco importando quem as causa.

Submetidos, os indivíduos se alienam de seus contextos, de seus opressores e apenas buscam não ofender, não arriscar, não criar problemas. A submissão cria a adesão ao despropósito, à arbitrariedade, à corrupção e ao cinismo. Em esfera social esse comportamento gera alienação, conservadorismo e acomodação. Psicologicamente é despersonalizante, a sujeição implica em não existir vivência de ser humilhado quando isso acontece, pois significa que o indivíduo jaz sob as garras da opressão e da submissão sem questionamento, consequentemente, sem possibilidade de mudança.

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