Desumanizar



Tendo o chão que pisa destruído e ficando sem base resta ao ser humano constatar o ocorrido. Isso é feito na vertigem. Nesse vórtice descobrimos que a natureza, o verde, o ar, a água e a terra diminuíram, quase desapareceram. Valores como fraternidade e solidariedade também são escassos. Sobra a tentativa de equilíbrio, sobram desejos e impotência. Manter-se em pé com possibilidade de conseguir andar e criar caminhos é tudo que se pode almejar. Nesse contexto aparecem também invasores, criadores de outras superfícies que agem acreditando que pular sobre as cabeças dos outros, cortá-las como apoio pode trazer resultados rápidos e profícuos.

Ao perder seus referenciais humanizadores, quais sejam o mundo como realidade, a natureza mantida, o ar despoluído, o clima sem cataclismas, o outro vivo e livre com valores relacionais significativos, com autonomia e disponibilidade, ao perdê-los o indivíduo se encontra exilado de sua humanidade, só lhe restando lutar para sobreviver.

A luta pela sobrevivência é árdua - não estabelece critérios além dos que fazem viver ou morrer. Tudo é proteína, o melhor lugar é o conseguido, mesmo que empilhando cabeça e ossos. Sem ética, sem valores nos quais a reciprocidade é privilegiada, resta ao humano a desumanização. Vira regra o que era exceção: usar o outro como fonte de prazer e sedação, não importando se criança, adulto ou idoso. Usar o outro para suprir as próprias incapacidades ou para sobrevivência é desumanizador.

O poder, a exploração, a escravidão do outro nos mais diversos níveis, seja no trabalho ou para satisfação e apoio, são fatores desumanizantes e aceleradores da própria alienação, na qual tudo o que resta é sobreviver, e ainda fazer isso da maneira mais eficiente e cômoda.

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