Reproduções estereotipadas
Frequentemente as pessoas explicam suas dificuldades, tanto quanto buscam entender seus acertos, considerando a ideia de que têm uma missão, que seus comportamentos são fruto de educação familiar, ou ainda, que representam resumo da aprendizagem e das regras sociais.
Pensar que suas atitudes e comportamentos dependem da aprendizagem, da profissão, dos treinamentos pode até ser verdade, mas reduzir o entendimento das próprias atitudes a esta abordagem, esgotar nela a compreensão de comportamentos e, à partir dessa visão, tudo explicar, desejar ou lamentar é uma apreciação redutora da humanidade.
O a priori, a crença em reencarnação, por exemplo, em carmas, destino ou equivalentes, também são sempre desindividualizantes. Essa perda de autonomia faz correr atrás de causas para que essas explicações possam garantir bons resultados, justificar as dificuldades ou os acertos. É uma absolutização que neutraliza a visão do relativo.
Existe uma fábula hindu antiga mas atual e interessante em sua visão relativista (apesar de seus dogmas e nuances preconceituosas), muito ilustrativa na neutralização dessa necessidade de se deter em causalismos absolutizadores:
“Dois amigos se encontraram em uma tarde ensolarada. Um disse que iria ao templo rezar, enquanto o outro disse que iria encontrar uma cortesã. Quando o amigo que foi ao templo rezar voltou, um espinho perfurou seu pé. Quando o amigo que foi ao encontro da cortesã voltou, ele encontrou uma moeda de 1 rupee na rua. Os dois amigos decidiram consultar o professor e pedir uma explicação para o que achavam discrepante no ocorrido. O professor disse: ‘o amigo que foi ao templo e rezou era para ser picado por uma cobra, ao passo que o amigo que foi ao encontro da cortesã era para ganhar uma fortuna. Então o bom comportamento suavizou a picada da cobra para um espinho, e a má ação reduziu a fortuna a uma moeda.’”
O que define e decide processos é o “como” e não o “para quê” ou o “por quê”. Não são as boas ações, nem as más, que vão configurar resultados, independente dos contextos vivenciados. No contexto de autonomia não se age para realizar objetivos, se age. Comportamentos repetitivos e voltados para objetivos geralmente são questionáveis. A aprendizagem, necessária para adaptação social, nem sempre esgota as possibilidades individuais, consequentemente não é explicação das mesmas. Análises que se baseiam em estereótipos são repetições ineficazes, reproduções de padrões ou referenciais que mais engessam do que explicam ou libertam, em suma: não globalizam as especificidades do que ocorre. Na psicologia, por exemplo (“você precisa se valorizar mais”, “vamos, você consegue, faça” etc.), nas ciências sociais (“profissionalização é possibilidade de atingir melhores condições sociais“) ou até nas áreas tecnológicas (“isso está funcionando bem, vamos manter”) as reproduções de chavões não explicam, não levam à compreensão e transformação, apenas anestesiam frustrações, tanto quanto impulsionam para um depois, admitido como solucionador.
Pensar que suas atitudes e comportamentos dependem da aprendizagem, da profissão, dos treinamentos pode até ser verdade, mas reduzir o entendimento das próprias atitudes a esta abordagem, esgotar nela a compreensão de comportamentos e, à partir dessa visão, tudo explicar, desejar ou lamentar é uma apreciação redutora da humanidade.
O a priori, a crença em reencarnação, por exemplo, em carmas, destino ou equivalentes, também são sempre desindividualizantes. Essa perda de autonomia faz correr atrás de causas para que essas explicações possam garantir bons resultados, justificar as dificuldades ou os acertos. É uma absolutização que neutraliza a visão do relativo.
Existe uma fábula hindu antiga mas atual e interessante em sua visão relativista (apesar de seus dogmas e nuances preconceituosas), muito ilustrativa na neutralização dessa necessidade de se deter em causalismos absolutizadores:
“Dois amigos se encontraram em uma tarde ensolarada. Um disse que iria ao templo rezar, enquanto o outro disse que iria encontrar uma cortesã. Quando o amigo que foi ao templo rezar voltou, um espinho perfurou seu pé. Quando o amigo que foi ao encontro da cortesã voltou, ele encontrou uma moeda de 1 rupee na rua. Os dois amigos decidiram consultar o professor e pedir uma explicação para o que achavam discrepante no ocorrido. O professor disse: ‘o amigo que foi ao templo e rezou era para ser picado por uma cobra, ao passo que o amigo que foi ao encontro da cortesã era para ganhar uma fortuna. Então o bom comportamento suavizou a picada da cobra para um espinho, e a má ação reduziu a fortuna a uma moeda.’”
O que define e decide processos é o “como” e não o “para quê” ou o “por quê”. Não são as boas ações, nem as más, que vão configurar resultados, independente dos contextos vivenciados. No contexto de autonomia não se age para realizar objetivos, se age. Comportamentos repetitivos e voltados para objetivos geralmente são questionáveis. A aprendizagem, necessária para adaptação social, nem sempre esgota as possibilidades individuais, consequentemente não é explicação das mesmas. Análises que se baseiam em estereótipos são repetições ineficazes, reproduções de padrões ou referenciais que mais engessam do que explicam ou libertam, em suma: não globalizam as especificidades do que ocorre. Na psicologia, por exemplo (“você precisa se valorizar mais”, “vamos, você consegue, faça” etc.), nas ciências sociais (“profissionalização é possibilidade de atingir melhores condições sociais“) ou até nas áreas tecnológicas (“isso está funcionando bem, vamos manter”) as reproduções de chavões não explicam, não levam à compreensão e transformação, apenas anestesiam frustrações, tanto quanto impulsionam para um depois, admitido como solucionador.
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