Problemáticas humanas - questões estruturantes I

 



Toda problemática humana - ou em outras palavras todo comportamento neurótico - decorre da própria pessoa não se aceitar e sempre precisar ser aceita, validada, reconhecida, considerada. Sentir-se subdimensionada, diminuída, incapacitada, diferente do que é considerado agradável e harmônico obriga a uma verificação constante do estar sendo aceita e considerada. Essa frequente avaliação dos resultados de seus comportamentos estrutura o processo de insegurança.

Pontualizado em função de resultados o indivíduo é polarizado para evitar falhas e buscar acertos, pois foi educado para conseguir bons resultados, para vencer na vida, superar seus deméritos, suas dificuldades e incapacidades.

As vivências de aceitação e de não aceitação decorrem do relacionamento com o outro, inicialmente pais ou quem os esteja substituindo. Frequentemente os filhos são aceitos pelo que significam enquanto realização de sonhos e desejos, medos e temores, consequentemente, educados para repetir vitórias ou superar fracassos. Ser avaliado como igual ou diferente dos próprios pais orienta os valores de vida e educação. É para o amanhã, ou para continuar ou negar o passado que as pessoas são cuidadas. O significado e o sentido das vivências são sublinhados e estruturados por essas relações. Nessa configuração, tanto são definidos significados, quanto orientações e valores de comportamento e de vida.

Ao se estabelecer diferenças em relação ao que é bom, ao que é socialmente valorizado e aceito, aparecem exclusões. Admitir que essa diminuição será vencida pela conquista de dinheiro e honras institucionalizadas, gera batalhadores que mesmo quando vencedores comemorados, sentem suas chagas e cicatrizes estremecerem. É a revolta e o júbilo por ter conseguido vencer. Quanto maior a superação, maior o comprometimento com o lugar reconhecido e conseguido na sociedade. Ser reconhecido, ser vitorioso é apenas uma capa que encobre cicatrizes - o processo de não aceitação permanece, pois só foi diminuída a insegurança, a instabilidade, mas não foi superado o se sentir inferior, não aceito. Tudo foi empenhado para viabilizar, para conseguir sucesso. É uma vitória, mas não é uma transformação, e assim o processo de não aceitação está aplacado, mas não resolvido. O mundo, a sociedade, os outros são pensados como instrumentos, oportunidades, situações amigas/inimigas que viabilizam bons ou maus resultados. Continua a se pensar que tudo depende de ser pobre ou rico, poderoso ou incapaz.

Quando situações sociais ou causas são os determinantes motivacionais, o que se busca são bons resultados. Essas vivências lineares são as pistas de corrida onde vitórias e fracassos se estabelecem. A vida é sinonimizada como luta contínua, encontros definitivos para sorte ou azar. Tudo depende do que se consegue. Nessas vivências, cansaço e feridas são adquiridas e as cicatrizes são os marcos que precisam ser superados ou apagados. Quanto mais se luta, mais se desarmoniza com tudo que está em volta. 

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