Problemáticas humanas - questões estruturantes V
Quase a totalidade das pessoas que buscam psicoterapia o fazem para diminuir ou resolver sintomas que atrapalham seu bem-estar na sociedade: angustia, ansiedade, desespero, medo, inibição, insônia, apetite compulsivo, anorexia, desejos sexuais compulsivos e obstinados, por exemplo. Esse tipo de busca psicoterápica já esclarece o que se deseja adquirir, o que se deseja normalizar. Essa escolha - fazer psicoterapia - esconde a chave que tudo explicita: a não aceitação, o não se sentir aceito, o não se aceitar. Essa estrutura de não aceitação é o que é deslocada por meio dos sintomas e aplacá-los promove ajuste, satisfação, mas não transforma as individualidades. Quando não ocorre esse processo de transformação o indivíduo é sedado em suas demandas existenciais e adequado a suas necessidades de sobrevivência. Geralmente as psicoterapias são exercidas como processos educativos que oferecem as melhores possibilidades para exercer antigas e esclerosadas necessidades. Não esquecer que elas refletem os principais valores das sociedades nas quais estão inseridas. Pensam o ser humano como um organismo em uma sociedade, lapidado por culturas e sistemas e que agora vai conseguir adequação, melhor sistematização de suas precariedades, de suas dificuldades e assim sobreviver melhor, convivendo com os outros. Esse poder aglutinador, aparentemente individualizador, das psicoterapias, as transforma em instrumentos protetores de sistemas nos quais a individualidade está encaixada, adaptada e consequentemente subdimensionada.
Na psicoterapia gestaltista, por meio de suas conceituações e abordagem teórica, o indivíduo é percebido como uma possibilidade de relação. Não há régua, não há compasso, não existem medidas, existem possibilitadores que se realizam no viver com o outro, em sociedade, no presente. As possibilidades humanas só podem ser percebidas e exercidas quando sistemas e regras são questionados. Não há por que se ajustar ao que aliena. Por essa razão, para mim sempre foi fundamental que antes de discutir ajuste e adequação, devem ser discutidas alienação, individualização e autonomia.
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