Instantâneo

 


Perceber o que está diante de si é realizar a obviedade do estar no mundo. É estar vivo. Equivale a respirar. No entanto, essa vivência presentificada é cada vez mais impossibilitada pelos anteparos, situações que se insurgem, situações edificadas, construídas, que desviam e impedem esse processo de vivência do estar no mundo.

Classificar, denominar, circunscrever são alguns dos impedimentos que, filtrando ocorrências para conseguir incentivar processos motivacionais, trazem vivências alheias ao que está ocorrendo. É como se não bastasse respirar, é como se respirar fosse um processo destinado a angariar resultados. Fica impossível viver por viver, fazer por fazer quando se objetiva resultados, quando não se percebe que o resultado é intrínseco ao próprio fazer, ao próprio processamento de comportamentos. Instrumentalizar, industrializar o espontâneo - o que está ocorrendo - é enquadra-lo em aprisionantes. Os rios correm sozinhos, mas, quando drenados, "orientados" e utilizados para gerar riqueza, energia por exemplo, são desviados de seus percursos.

Orientação, para o humano, pode ser educativa, mas sempre se constitui em resumos de outros objetivos, de aspectos frequentemente alienantes, mesmo que feitos em nome da família e da sociedade. O importante para vivências totalizadoras, globalizadoras é o espontâneo que permite vivenciar o presente e assim situar-se no aqui e agora, nas suas próprias dimensões configuradoras. É isso que possibilita sabedoria, conhecimento e humanização, é o respirar sem artefatos, sem aparelhos curadores ou curativos.

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