Estigmas

 

 

Estigma é a marca estruturada por preconceitos. É a predeterminação, a criação de categorias, de conceitos que se transformam em dogmas e a partir dos quais tudo é entendido e até mesmo digerido. Transformar um sinal físico em sinônimo de maldade, por exemplo, é uma atitude que atropela, engole ou destrói. Ao longo dos séculos proliferaram os estigmas tanto para o bem como para o mal. Ser pobre, ser rico, ser mulher, ser homem, ser branco, ser negro estabelecia critérios a partir dos quais o mundo e os relacionamentos eram configurados e entendidos.

Quanto mais inclusivas se tornam as sociedades, mais os estigmas desaparecem. Há lugar e sentido para todos. Entre católicos se costuma dizer que "todos são filhos de Deus" e podem ser incluídos desde que sejam batizados, crismados etc. e isso neutraliza vários estigmas apesar de criar outro: é solucionador de controles, por um lado, derrubando muros separatistas, mas, por outro lado faz surgir os bons, diferenciando-os dos ímpios. De fato a palavra 'católico' significa 'universal' e pretende inclusão de todos, mas a religião estabelece critérios (rituais) de associação que, como todas as outras religiões mantém o estigma dos fiéis e infiéis.

A estigmatização se exerce também hoje em dia como o tijolo e as madeiras de construção dos "currais eleitorais". Agrupar é selecionar o que pode ser controlado, comprado e arrendado. De marcas e sinais os estigmas são atualizados em cores, bandeiras e sinalizações que abrem ou fecham caminhos e portas. Quanto maior a despersonalização, a alienação, maior o processo de agrupamento e um dos magnetizadores desse processo é a estigmatização. É ela que permite decisões pelos governos e pelas famílias de quem é mais apto, de quem é mais capaz, da separação entre os mais espertos e os mais lentos, dos considerados belos e dos considerados feios, enfim, tudo é selecionado, estigmatizado. Estigmatização é a criação de categorias, padrões que explicam e debilitam o humano, o individualizado.

Felizmente, ao longo dos séculos, estigmas diminuíram na medida em que se desenvolveu o discernimento e o esclarecimento científico. Mas também, infelizmente, a estigmatização continua, mudando os critérios. Chegamos ao ponto de saber que todos são iguais, mas pelos vínculos e controles com os poderosos, uns têm direitos assegurados, outros não são favorecidos, não têm a marca do escolhido, de ser amigo do rei, dos poderosos. Quebrar esse processo será possível quando o significado do indivíduo for auferido dele próprio, pelo estar no mundo e existir com infinitas possibilidades e determinadas necessidades. Quando os processos são apreendidos os estigmas desaparecem, pois não há como fixá-los, desde que não há ponto de partida e nem mesmo de chegada.

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