Reações articuladas - espontaneidade e propósitos



Agir ou reagir ao que acontece vai caracterizar atitudes espontâneas ou premeditadas. Em determinados contextos as reações aos acontecimentos são espontâneas: é o grito, a imprecação, a dor ao sentir o contato com o prego, com um caco de vidro ou uma topada em uma pedra, por exemplo. É espontâneo também a alegria ao encontrar alguém que se ama, ou o enfado diante de alguém que todo dia quer "contar um caso", pedir uma ajuda, reclamar da própria sorte, do azar que julga caracterizar seu cotidiano.

A espontaneidade dessas reações quase caracteriza o que se convenciona chamar de reação a estímulo, responsável pela abordagem determinante do condicionamento feita por behavioristas que esquematizaram as condições nas quais se estabelecem padrões de resposta, como vemos no condicionamento clássico de Pavlov e também no condicionamento operante de Skinner: "ao chegar diante do espelho ouço, vejo que ele me pede para escovar os dentes".

É assim que funciona toda a indústria de entretenimento e de propaganda. Os hambúrgueres pedem para ser comidos, os tênis querem ser calçados, os carros clamam ser dirigidos. Essa criação de motivação é aniquiladora pois transforma o indivíduo em reagente, deixando ele de ser agente, de ter escolhas não contingentes, não endereçadas a seus espaços de necessidades controladas e manipuladas. Nesse universo de sugestão e controle, de algoritmos que tudo preveem e proveem, não há espontaneidade, as reações são produzidas e controladas. Qualquer desejo ou motivação é engolida pela agência manipuladora, mantenedora dos sistemas existentes. Caminhos são traçados, tudo está determinado, inclusive o aleatório.

A monotonia, o tédio, ou a luta para vencer, se instala. Nesse labirinto o indivíduo se perde. O único fio de Ariadne resgatador, o que faz sair do labirinto, do vórtice das sugestões e necessidades, é se deter no presente. Encontrar o fio condutor, segurar e seguir até chegar onde ele termina e delimita, isso é o que liberta. Viver o presente, sair das dificuldades aprisionantes, questionar o que imobiliza é descobrir outro universo, outro modo de ação que recupera a integridade, o não estar dividido entre o necessário, o possível e o impossível. A percepção do ponto que impulsiona, do início constante é o que mantém a continuidade e incorpora o novo. Cada manhã continua uma noite que conflui para novo amanhã. Apreender essas interfaces neutraliza divisões, exclui metas e propósitos, realiza ideais humanos e mágicos: importa caminhar e não o caminho. A ação humaniza, o posicionamento coisifica.

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