Temor



Avaliar situações e ver escorregar as possibilidades de sucesso e realização cria ansiedade quando não se tem autonomia, quando sempre se está almejando paz e tranquilidade. Não suportar estar só, entregue a si mesmo, por exemplo, é a constatação do vazio, do medo, da incapacidade. Precisar de disfarce funciona como impermeabilização que protege da dor. Disfarçar o fato de se sentir só e desesperado é caminho para o medo, para o temor criador de omissão.

 

Estar em suspenso, não tocar os pés no chão, fugir da realidade, na maioria das vezes é uma situação alcançada por meio de drogas. É o vício do remédio que anestesia, do excitante que traz esperança, do estupefaciente, do que como tapete mágico transporta para outro faz de conta. O importante é não ver o que acontece, não sentir o que se teme. Viver nas nuvens - nefelibata - é a busca falível da terra do nunca, do que não existe, que existe para configurar tempo e espera, pessoas e monstros inventados. Nesse malabarismo se encontra pontos de apoio que são molas impulsionadoras, levando a Deus, por exemplo, enfim, a abrigos protetores. Com as instâncias do salvador e protetor criadas, vazios e omissões continuam e o temor se eterniza.

 

Apenas o encontro - o questionamento - estabelece antítese. É essa contradição vivenciada que obriga o temeroso, o medroso a pôr os pés no chão. Frequentemente é o processo psicoterápico que realiza essa transformação. Esse fato novo é descoberta que pode conduzir à mudança se houver continuidade na contradição entre o que se vivencia e o que se teme.

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