Amargura

 

 

Frustração contínua, desejos não realizados, expectativas falhadas são os ingredientes do posicionamento, do comportamento amargurado. Tudo falhou, nada deu certo, os indivíduos sentem-se sozinhos, desesperados, correndo atrás de oportunidades, da vida que todos têm e eles não tiveram. A inveja cozinhando, cozida com lágrimas de raiva filtrada pelo que consideram injusto, é o riacho que sacia a sede. É o amargo, o desprezível, o resíduo, o bagulho que deveria ser descartado, mas foi retido pois era o único estofo concreto do cotidiano. É o famoso personagem apascentado pelo ódio que escorre nas linhas de Poe, Shakespeare e Dostoiévski. É também o estojo, o ninho onde se condicionam e nutrem víboras. O amargor é imobilizador, pois é um resíduo muito forte da não aceitação de si, do mundo e do outro. Nesse sentido, criaturas amargas estão ancoradas na depressão que tudo detém, engole e destrói, mas que para elas é causa da doçura do dia a dia, sendo seu mel restaurador. Estar deprimido dilui o amargor ao jogá-lo nas costas dos outros, retirando-o de si. O indivíduo menos amargurado e mais deprimido torna-se vítima, um reivindicador exilado na prisão do “me cuide, me acompanhe”, refrão que adoça a própria vida.

 


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