Distopia e arbitrariedade

  

 

A vida transformada em gincana, maratona na qual vence o melhor é pontilhada de urgências. Nada pode ser adiado, tudo precisa ocorrer do modo esperado, nada pode falhar, assim pensam os maratonistas, indivíduos transformados em objetos, títeres e mártires dos sistemas que os orientam. Urgências familiares, urgências políticas, urgências sociais, planos, objetivos, todas essas expectativas lançam a vida para depois, fazendo com que os indivíduos busquem a luz no fim do túnel. As trevas são redimidas por palavras de ordem políticas, por pregações religiosas, por promessas aliciadoras de bem-estar, por explicações espirituais e transcendentes, missões e propostas do que é o viver aqui neste planeta, nesta Terra. É o placebo, o faz de conta que estimula o corre-corre, o atropelar o outro, tudo em nome do bem ou do mal que deve ser destruído. Ter urgência é o faz de conta que tudo justifica, corrompe e destrói, pois é o acenar para o inexistente, para o que deve ser, o que precisa acontecer. Negar o presente, esticando-o para depois é uma das anomalias responsáveis pela distopia e arbitrariedade existentes, onde o ser humano é atropelado, esmagado para realização de propósitos alheios a sua condição de ser no mundo com os outros.


Comentários

  1. Ao mesmo tempo o poder público se omite do que que é importante, de sua obrigação e responsabilidade, como a manutenção de sistema de defesa contra enchentes e diques em Porto Alegre e outras regiões do Rio Grande do Sul. Em vez disso queriam destruir o muro de proteção e construir shopping e empreendimentos imobiliários na região do Cais da Mauá.

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    1. Verdade, Augusto. Importante não esquecer que o povo que sofre é o mesmo que vota e escolhe seus algozes.

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    2. As massas ignorantes podem ser manipuladas a fazer escolhas que perpetuam seu próprio sofrimento. Não sei até que ponto se possa responsabilizar pessoas que nem sabem de seus direitos de cidadania. Já é intrigante como pessoas que têm cidadania possam eleger políticos corruptos, e como, por exemplo, Hitler pôde ter sido eleito pelo voto democrático, em uma sociedade culturalmente refinada. Nada é garantido. Penso como se possa prevenir a repetição desses padrões no futuro. Talvez seja um processo social agonizantemente lento.

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