Poço sem fundo
A ganância, essa atitude ou comportamento, resulta sempre da pessoa se sentir no direito de realizar e conseguir qualquer coisa que deseje pois é capaz e privilegiada, e também por ter direito ou por se sentir injustiçada, marginalizada. “Os meios justificam os fins, querer é poder, agora é minha vez” e outros lemas espúrios, enviesados e autorreferenciados justificam seus atos. É uma atitude autorreferenciada que atinge níveis perigosos quando alicerçada em direitos identitários, atitudes de expiação, ou pretendida justiça social. “Fui explorado, agora exijo meus direitos”, “todos têm, e eu?” são gritos desesperados que orientam comportamentos ambiciosos, exclusivistas e destruidores da harmonia familiar e social. São posicionamentos pessoais, apoiados em frustrações e desejos individualizados, sem entendimento das forças antagônicas grupais, sociais atuantes sejam na família, seja na sociedade em geral, consequentemente focados apenas nas mudanças que levam a ganhos individuais.
As famílias, geralmente, no intento de equalizar oportunidades incentivam ganâncias, criando seus filhos para “brilhar e superar dificuldades”. Viver buscando resultados, brilhos e domínios é sempre destrutivo, acarreta frustração, medos, onipotências e impotências. Querer o que não se tem, buscar o brilho, o destaque, para aproveitar direitos e realizar sonhos é estruturante de ambições e ganância, sempre destruidoras, pois esvaziam o indivíduo, ficando apenas o que se deseja e procura preencher. É o poço sem fundo que tudo engole. É a repetição, é a destruição: é a utilização do outro para ser escada, caminho em direção às próprias metas. É a fome que tudo engole, é a insaciabilidade do se sentir sozinho com seu desejo.
Seu artigo me remeteu a outro seu, 'A Radicalidade do Desejo' de 2017, e a trechos do livro 'Desespero e Maldade'. Na minha ignorância penso, talvez erradamente, que o poço sem fundo, a permanente insatisfação, seja estruturada por traumas e buracos emocionais que não podem ser resolvidos por compensações - se procura resolver algo que nem se sabe o que é, mas para o que se procura a solução.
ResponderExcluirPoço sem fundo é uma metáfora para autorreferenciamento e não aceitação.
ExcluirAcho que seu artigo 'Deslocamentos da não aceitação' de 2016 explica bem isso.
ResponderExcluirSim, é verdade!
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