Propósito e despropósito



A repetição da frustração - nada conseguir - estrutura desânimo e tédio. Viver para o depois, para alcançar o que se quer, o que não se tem, o que se deve ter é aniquilador de individualidades, pois a própria pessoa se divide, se transforma em instrumento de qualidade ou desigualdade, de erros ou de acertos. Quanto mais se vive para o depois, quanto mais se agarra no futuro para atravessar o que considera inóspito e desagradável – o presente, seu contexto de vida – mais o indivíduo se compromete com resultados. Esse comprometimento esvazia, e nada mais significa, tudo não passa de marcas de tempo, espaço e índices de estar no caminho. É, metaforicamente, o tostão a tostão guardado para permitir realizar planos e propósitos: casa, formatura, prazer e diversão. A vida para depois abandona a vida de agora e assim o que acontece não existe, não significa. É como se viver fosse um permanente jejum, uma imolação às causas buscadas e transformadas em significativas do próprio existir. É o vazio, é o tédio sempre reinante, desde que se atribui o que virá de bom como saudável e salutar. Estabelecer a realização da vida no que se luta e caminha para realizar é um impossível inventado quando se desistiu de viver e dos processos relacionais, e desse modo, colocando a vida para depois. O propósito é o despropósito, esse oximoro - ou koan para os mestres - muito esclarece e questiona.

 

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