Deter
Quando eu percebo o outro enquanto ele próprio, isso me detém. É o encontro. Pode ser amizade, amor, pode também ser a descoberta do maldoso, do invejoso, do esperto, do ruim, do agressor.
Para perceber o outro enquanto ele próprio é necessário ser disponível, é necessário se aceitar, é assim que o outro nos detém para o bem ou para o mal. Perceber o ouro em função de molduras classificatórias é o mais frequente atualmente. Nos é explicado o que é bom, o que é mau. Esses critérios identificadores nada satisfazem, são véus que distorcem a percepção, mas infelizmente é assim que tudo é catalogado e vivenciado. Preconceitos e regras, conhecer por experiência e vivência distorcem a percepção do outro.
O outro é o que está comigo. Essa continuidade que estrutura amizade, que estrutura amor, certezas e duvidas é o que nos detém, e essa parada permite, por mais absurdo que pareça, movimento, dinâmica. É o encontro. Ele não é engendrado, é a resultante alquímica dos processos. Vale lembrar que não há alguém que substitua o encontro enquanto encontro, e não há supostos estabelecidos, ou contextos de transformação. Deter, estar diante, parar quando se percebe, se questionar, é o encontro, é mudança, é descoberta, é uma das maiores unificações do estar no mundo com o outro, para o bem ou para o mal, mas é o esclarecimento, a luz que ilumina e explica o que se é, o que o outro é. Nos processos psicoterápicos essa é uma descoberta frequente, geralmente desesperadora, pois faz cair ilusões, mitos e crenças redentoras.
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Acho esse seu texto muito esclarecedor do que somos e de quem nos cerca, iluminando a essência do encontro humano. Lindo!
ResponderExcluirObrigada Augusto!
ExcluirVera, só há pouco tempo, percebi o pouco q deixava o outro ser. Comecei a vê-lo diferente (p o bem ou p o mal) acho q a idade contribuiu , inclusive para ver qto tempo perdemos com o codificar, o catalogar.
ResponderExcluirIsto é, coisificar. Por falar em encontro, tenho relido Je et tu (ich und du, no original) de Martin Buber, que conheci através de vc. Gosto desse livro. Bjs e obrigada pelo texto
ResponderExcluirOK, Ana!
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