Conquistas e arbitrariedades
Apoiado no que precisa ser conseguido, no que precisa ser realizado, o indivíduo passa a verificar os acertos ou erros de seus comportamentos. Essa busca de concordância é aniquiladora, tanto quanto vivificadora. Saber-se criticado e advertido de erros e fracassos é vivenciado como ajuda, como orientação. A sideração em torno dos objetivos é tão intensa que pouco significa constatar fracassos ou comprovar erros. Vive-se para conseguir. Para isso basta saber se pode apoiar o pé para o pulo, ou o braço para não cair. Saber com o que se conta, é o que importa. Sempre regulado por palmas ou vaias, a busca de constatar resultados, de verificar likes é constante. As ações se voltam para os melhores resultados e consecução de metas, desconsiderando erros e falhas, e cultivando falsas amizades que viabilizem as conquistas. Viver desse modo é despersonalizador, entretanto isso não importa pois o que se objetiva é ganhar e não perder, é atingir resultados, é ser considerado como alguém que significa.
Os processos de despersonalização, de omissão, oportunismo e descontinuidade atingem níveis, ou estruturam referenciais nos quais pouco conta ser alguém, o que interessa é ocupar um lugar no espaço e “estar bem na foto, na fita”. Essa despersonalização é constante nos horizontes atuais dos relacionamentos. Não são pessoas envolvidas, são produtos responsáveis por posições beneficiadas ou prejudiciais. Não importa mais o ser, o que faz sentido é representar, significar enquanto dado capacitador ou incapacitador.
Ao final temos a negação da dinâmica relacional do que apoia oprime, ela foi transformada no que apoia oprime mas compensa, desde que outros interesses, outras realidades interferem e assim ajudam na criação de outros produtos, outras realidades. Ser transformado em massa de manobra é o novo objetivo. Nesse sentido, quanto mais faz de conta, quanto mais mentira, mais ansiedade, mais empenho para reciclar fantasias. Extrair alguma coisa do nada é a grande mágica que angaria multidões, é a ilusão que a muitos congrega, estimula e motiva. É a opressão resultante do esvaziamento que é vivenciada como perspectiva de novidade, de mudança.
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