Obstinação

 

 

Obstinação é o propósito e determinação que faz tudo ser mantido. Essa atitude provém de objetivos, de metas. É a autodeterminação comprometida com resultados. Olhando para si, olhando em volta o indivíduo constata que não pode e não quer abrir mão de seus objetivos, pois os mesmos foram estabelecidos para suprir faltas, carências. Tudo pode seguir, mas sem desistir de conseguir resultados fundamentais para manutenção da sobrevivência. É a escolha oportunista, contingenciada por medos, desejos e busca de resultados. Manter os desejos e objetivos, não importa como, é o propósito. Ao longo da vida, com o passar do tempo, essa atitude é o que sustenta, mas é também o que impede a liberdade, a abertura, a descoberta, a espontaneidade. O indivíduo obstinado é o forte, tanto quanto o fraco que só sobrevive por estar agarrado à tábua de salvação: é a insistência que permite flutuar, não afundar. Apenas isso, e assim a vida passa nessa constante realização de desejos: “que tudo dê certo e que eu consiga”. Estabelece-se, desse modo, a meta de sobreviver, mais que isso, é estabelecida a meta de não soltar, não renunciar ao que agarra, ao que segura, sem se perguntar o que é segurado, ou para quê, pois se tem a resposta instantânea: para sobreviver, para conseguir viver.

 

É admirável a atitude obstinada, é admirável a constância e coerência da mesma, mas é lamentável o vazio e despropósito que ela implica: é o viver por viver esperando dias melhores. É o adiamento. Imaginar que a atitude obcecada e esforços formalizam e constituem adiamentos, consequente despropósito, é questionador. Vive-se para manter o que se deseja atingir, mesmo descobrindo as evidências do vazio e despropósito do estar no mundo. O depois, o que precisa ser atingido, quando oferece qualquer percepção de impossibilidade, estabelece o adiamento. É a esperança como substitutiva do desesperado estado de estar no mundo com os outros. Obstinação é o esforço para negar o fracasso, o desespero, pois é o constante artifício, cotidianamente vivenciado, de dar a volta por cima, de manter-se firme embora faminto, para comer as migalhas do que é considerado necessário. 

 

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Comentários

  1. Pensei se a questão é como em equilibrar a luta pela sobrevivência com a capacidade de se abrir ao presente e questionar o propósito da existência...

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    1. Oi Augusto, equilibrar é, em última análise, manter divisão. Tem que radicalizar e questionar desejos e frustrações, entre os limites e aspirações (metas).

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