Nada pode falhar

 

 

 

Quando a vivência do presente, do encontro, dos problemas é realizada por meio de filtros, dos objetivos e desejos, tudo conflui para ser considerado bom ou ruim. O que vai somar, o que vai diminuir, algo que multiplica, e como se divide, são vivências, são perguntas e dúvidas frequentes. Não se deter no vivenciado, estar sempre verificando o que ameaça ou o que pode acrescentar, é uma vivência redutora de possibilidades. Não se relacionar com o que está acontecendo, esperar sempre o depois redentor ou aplacador transforma o dia a dia em uma espera de certezas. Ser julgado positivo ou negativo vai acontecer a depender do que se faça ou do que não se faça. A vida, as expectativas, a inquietação, a ansiedade, o medo, são subprodutos que emergem e consequentemente esvaziam os encontros, as vivências e as constatações.

 

A explicitação da revolta, do medo de perder, a torcida para ganhar e conquistar destrói o cotidiano. Nada acontece como acontece. Tudo tem que ser referenciado em algum outro programa. Apostar no futuro, decepcionado de jogar todas as fichas no presente, é transformar o dia a dia em conflitos, em nebulosos espaços mediadores, em passagens para depois. Essa construção de pontes de acesso, cortes redutores de distância, se transforma nos buracos, nos abismos onde realizações, desejos e propósitos desaparecem. A vida continuada é sempre uma negação da vida vivenciada. É o acréscimo ou a diminuição que tudo distorce. O que parece ser, o que precisa ser é diferente do que é. Malabarismo e equilíbrio são as performances solicitadas e é essa arbitrariedade performática que atrapalha e subverte o estar no mundo. A medida de vivências passa a ser resultado de medidas solúveis, de vazio agrupador de medidas problematizadoras. O que se busca é o que se esconde, e o que se descobre, o que se acha são resíduos processuais. Ficam as contorções. As performances, os saltos ornamentais, funcionam como situações realizadas, dando assim condição e cacife para novos empreendimentos. Tudo é aposta, e esse anseio constante impede viver o que está acontecendo. No máximo a vivência do presente, do que está acontecendo, é a retirada, a quebra das pedras que atrapalham os saltos ornamentais, as dissimulações. 

 

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