Problemas

 


 

A maioria das pessoas quando se sente constantemente insatisfeita ou com dificuldades imagina que está com algum problema. Geralmente a constatação e demarcação de problemas é feita por meio dos referenciais de desejos não realizados, da observação de realidades insatisfatórias, pois são percebidos no referencial dos próprios medos, ou seja, da não aceitação.

 

Perceber problemas nem sempre é pelos questionamentos aos mesmos. Essa percepção, via de regra, vem acompanhada de dificuldades, medos e inseguranças. Ter falhado em alguma situação, não conseguir o bom resultado no dia a dia cria ansiedade que leva a não dormir, a ter insônia, ou a viver cansado, sonolento, por exemplo. Tudo isso é vivenciado como sintoma indicativo de problema, de não estar se sentindo bem. E são a ansiedade, a insegurança, o medo, a insônia ou a sonolência que levam a supor a existência de problema. Percebe-se com problema quando as coisas não andam como se deseja que andem. É esse círculo vicioso que transforma a percepção dos próprios problemas em justificativas para as dificuldades relacionais cotidianas. A continuidade das mesmas traz queixa, aumenta o medo e vem a necessidade de evitar o mal-estar que se tem, ou o medo do que está atrapalhando a vida. Balizados por essas constatações, a insegurança aumenta, assim como a angústia, a irritação e o círculo vicioso cresce, até que algum ponto se abre e o indivíduo procura um tratamento, uma psicoterapia. Infelizmente, até que isso ocorra muitos paliativos, muitas paradas e desvios absurdos surgem, como o problema ser negado ou transformado no que justifica o mal-estar e melhora a performance.

 

Até se perceber que o problema é a própria pessoa, muito tempo passa e muitas distorções aparecem: a culpa é do outro sempre, sejam os pais, os companheiros, até mesmo os governantes. A não aceitação de si cria deslocamentos e nesse processo muitas relocações são buscadas, desde a maneira de cortar e arrumar o cabelo, por exemplo, até a mudança de bairro, cidade, país.

 

Perceber a não aceitação de si, dos outros e de inúmeras situações é libertador, pois reconfigura caminhos, descobre novas realidades, transforma limites e abre perspectivas.

 

No universo de queixas se consegue ser vítima. E só quando se questiona a omissão, os sonhos, desejos e crenças surge mudança, novos caminhos e perspectivas são configurados. Até isso ocorrer, a grande galeria de culpados aumenta, tanto quanto a crença em sorte, azar é invocada. A maneira mágica e estereotipada de lidar com os problemas é criadora de divisões, sempre inventa culpados, vítimas, enfim, exila o indivíduo do estar com o outro enquanto ele próprio, com perspectiva, determinação e alegria.

 

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