O enigma do cotidiano

 


 

Quando tudo é entendido como dinâmica e energia não se sabe se o que acontece está apenas acontecendo, não se sabe o antes e o depois, pois não há continuidade. Para estar no mundo com o outro enquanto possibilidade relacional não é necessário arrumar e organizar para se situar, e isso é bem diferente das realizações necessárias e contingentes dos próprios desejos e necessidades.

 

Incerteza é o não saber. Quando o não saber é vivenciado como algo diferente de uma constatação, ele se torna incerteza. Não saber é uma certeza, mas se é continuado enquanto verificação e dúvida transforma-se em um problema. Qualquer situação que não se esgote em si mesma, que continue, encontra outros contextos de referência, de relacionamentos, e passa, desse modo, a ser uma nova situação na qual nada está definido enquanto propósitos anteriores estruturantes.

 

Confiar no que se acredita estrutura certezas. Vivenciar essas certezas cria continuidades, estabelecendo, assim, contextos nos quais pode haver diferenciação do que significa enquanto semelhanças ou disparidade. Essas vivências permitem destacar e personalizar relacionamentos.

 

A insegurança diária cria malabaristas que fazem qualquer coisa para sobreviver. O medo, a dúvida, a esperteza, os enganos são constantes. O engano estabelece as vivências cotidianas nas quais nada é garantido, mas tudo é explicado. É o passe de mágica para situar e determinar o acaso. Nesse contexto, é necessário saber jogar e driblar com todas essas variações. Nada é definitivo e tudo pode acontecer, pois não se sabe o que está acontecendo. É o enigma do cotidiano embrulhado pelas motivações e conveniências.

 

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Comentários

  1. Eu vi muitos homens brigando, ouvi seus gritos
    Estive no fundo de cada vontade encoberta
    E a coisa mais certa de todas as coisas
    Não vale um caminho sob o sol
    E o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol
    (Caetano Veloso, Força Estranha, 2018)

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