Realidade Virtual
Na história da computação o conceito de realidade virtual começou a ser usado na década de 70, no início alternando entre realidade artificial e realidade virtual, para designar um tipo específico de intercâmbio homem-computador no qual era criado um ambiente que permitia a interação de vários participantes. Com o desenvolvimento da internet e sua democratização o conceito caiu no senso-comum, alcançando enorme abrangência; estar online é estar no mundo virtual. Seja entre técnicos da computação, seja entre usuários comuns, o fundamento do conceito de realidade virtual é a idéia de simulação: a "realidade verdadeira" é simulada pelos computadores, seus sistemas e seus usuários. Várias questões e debates surgiram sobre as consequências da vivência desta "nova realidade", como se um novo mundo estivesse surgindo e com ele um novo homem. Foi, inclusive, cunhado o termo geração virtual para os que nasceram a partir de 1980 e todos os que nasceram antes desta data são estrangeiros no mundo virtual.
Para Husserl o aparente é o real. Não há realidade de verdade ou realidade de mentira.
A realidade da ilusão, a ilusão da realidade são vivenciadas pelo homem. O real e o ilusório sempre interessaram aos filósofos, aos cientistas, a todos. Para as pessoas comuns isso sempre é pensado, em última análise, como verdade e mentira. A verdade e a mentira interessaram também a Nietzsche. Ele escreveu sobre elas em seus livros e especialmente em um livro sobre verdades e mentiras, no qual ele diz: "as verdades são ilusões, metáforas que se tornaram gastas e sem forças, moedas que perderam seu valor de troca e já não são mais agora consideradas moedas, mas sim metal". Descartes, Pascal, Wittgenstein, todos se debatiam com essas questões: realidade, ilusão, imaginação, sonho, conhecimento, reconhecimento.
Para mim a percepção, seus processos e contextos, permite resolver essas questões.
Nas relações de Figura-Fundo* o percebido é a Figura. O Fundo é o estruturante, nunca é o percebido. Real é o percebido, é a Figura. Ilusão é o Fundo, o não percebido, portanto não real.
Para Aristóteles as coisas existem em ato e em potência. Existir em potência é tender a ser outro, é guardar em si a possibilidade de ser outro, como por exemplo a semente que é a planta em potência. Existir em ato é a existência realizada, no mesmo exemplo, a planta é a semente em ato. É clássico o seu exemplo da estátua que existe potencialmente, ou virtualmente, no mármore e passa a existir em ato pelas mãos do escultor. Para ele tudo é tanto ato quanto potência, mesmo a planta que é a semente em ato, é também potência que pode vir a ser alimento, por exemplo.
As classificações, as tipologias - novamente Aristóteles!!! - criaram diversas realidades: realidade simbólica, realidade virtual, realidade escondida, realidade imaginada etc. Acontece que realidade é uma só, realidade é o que percebemos.
Quando estamos online (dito virtual), percebemos. A percepção sempre ocorre por meio da visão, audição, gustação, olfação e percepção tactil. Online não se sente gosto, cheiro nem se tem contato tactil. A percepção é igual a que ocorre diante de um quadro ou durante uma leitura - apenas percepção visual. A globalização e closura dos dados insinuados pelo contexto é feita pela memória e pelo pensamento. O pensamento é o prolongamento das percepções, não é uma outra atividade psíquica como pensavam os elementaristas, aristotélicos. A memória armazena tudo o que é percebido e assim entendemos porque determinadas percepções causam sinestesias: como o vermelho percebido no morango que exibe também seu gosto e cheiro.
Real é o percebido, virtual é real.
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* Gestalt - lei de Figura-Fundo: a Figura é sempre o que é percebido, o Fundo nunca o é, toda percepção se dá em termos de Figura-Fundo, existe uma reversibilidade entre a Figura e o Fundo.
O tema realidade e lusão está desenvolvido com detalhes e explicações em meu livro: A Realidade da Ilusão a Ilusão da Realidade
"A Realidade da Ilusão, A Ilusão da Realidade", Vera Felicidade A. Campos
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