Reivindicações

Olhar em volta e nada ver, este vazio, solidão ou desespero é resultante da falta de autonomia. O ser humano, enquanto organismo, não sobrevive sem autonomia, sem que o organismo realize suas funções básicas: assimilação/desassimilação, locomoção, sinalizações relacionais (cognição/percepção). O ser humano, como ser relacional, subsiste e coexiste com o outro. Quando este relacionamento é estruturado em autonomia recíproca, as relações fluem, existe disponibilidade; entretanto, quando falta autonomia surgem os apoios, as muletas ou usos, as adequações ou inadequações. Não querer ficar só, precisar de alguém, querer colorir o dia a dia, são sintomas desta dependência, desta falta de autonomia. Grandes sofrimentos, depressões por ser abandonado, desapareceriam se fosse percebida a fraqueza, o medo, o vazio a ser preenchido - não é o outro que falta, é o vazio que persiste. O espaço desocupado é a muleta quebrada ou roubada; vivencia-se a falta, o abandono, quando em verdade o que é sentido é a urgência de tampar, preencher.

Quanto maior é a vivência de perda, de falta, mais se reivindica, se chora, se exige.

Reconfigurar espaços, mudar estruturas, aplanar, dar continuidade ao que se vivencia, estabelece paisagens significativas. Ao olhar em volta sempre se vê algo ou alguém, dimensões são criadas, novas situações surgem. Este momento de descoberta transforma a atitude de reivindicar, pedir, esperar, em participação, encontro, consequentemente, mudança.



"Filosofia do Tédio" de Lars Svendsen
"A Vontade de Poder" de Friedrich Nietzsche


verafelicidade@gmail.com

Comentários

  1. Concordo em parte Vera. No entanto, muitas vezes o "outro", que não consegue ser reponsável pelo próximo, usa esse argumento para liberar-se e ignorar a dor que causou ao abandonar alguém que o amava (não para preencher buracos, mas amava a companhia, a cumplicidade, a amizade,etc).

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    1. Prezado anônimo, o exemplo que você dá é a própria reivindicação do carente, apresentando justificativas de vítima magoada. A base do questionamento terapêutico é: se o problema do outro lhe atinge, lhe afeta, o problema é seu. Quando escrevo "a urgência de tampar o vazio" explicito o deslocamento criado pela atitude reivindicatória da vítima, geralmente sancionada pelo consenso e pelos tratamentos de apoio, de ajuda.

      Abraço

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    2. Sendo assim somos todos isentos de qualquer responsabilidade em relação ao outro? Me desculpe, mas não concordo com a teoria. Acho que uma coisa não isenta a outra: a "vítima" (não gosto do termo) tem que procurar sua cura em si mesma, verdade; Mas ninguém é responsável sozinho ou pode se alienar em relação aos seus próprios atos. Responsabilidade é algo inprescindível!
      Abraços cordiais.

      Laura Lasalvia

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    3. Prezada Laura, responsabilidade é totalmente independente de reivindicação; reivindicar é cobrar o que se imagina ser de direito, responsabilidade não resulta de cobranças. O importante é a autonomia. A reivindicação estrutura a vítima. Vítimas são todos os que não tem autonomia, que dependem do outro, das circunstâncias ou dos sistemas.

      Abraço

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  2. Verdade! Agora o teu discurso começa a fazer sentido pra mim. Deixar de reivindicar é uma libertação. Se o outro teve, tem ou terá responsabilidade é problema dele. A sua consciência que o julgue (naão compete a mim). Verdade, sou uma mulher muito mais forte e independente do que um homem fraco qualquer que não admite compromissos... Sou mais eu!
    Obrigada querida! me esclareceu e me fortaleceu!

    Bjs;
    Laurinha

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    1. Prezada Laura, exatamente, como você diz "deixar de reivindicar é uma libertação". Além disto, é uma atitude que fortalece. Se quiser complementar este tema, dê uma lida no artigo "Responsabilidade", neste mesmo blog, setembro de 2012.

      Beijos,
      Vera

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  3. Que legal esse diálogo!
    Mais um excelente texto, Vera.
    Bjs.

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