O que conta - padrões

Não sendo aceito pelo que é - ser humano com possibilidades e necessidades de relacionamento - estrutura-se o processo de não aceitação, com consequentes caminhos de aceitação sob condições. Um destes caminhos é através do que se padroniza: bom comportamento, boa aparência, bons resultados. Riqueza, beleza e sucesso são padronizados e passam a ser buscados. Tudo é avaliado dentro destes referenciais. Fazer amigos, criar família, estabelecer segurança oriunda de recursos materiais é o nirvana buscado. Tudo gira em torno de estruturar-se dentro de padrões, sendo neles aceito e o que é valorizado é o que complementa, completa, realiza. O próprio ser é padronizado, é transformado em ego, em eu sustentado pelo poder do conseguido e estabelecido.

Questões existenciais foram transformadas em avaliações relacionais, onde o verificado é o poder de acréscimo ou de diminuição, de adequação ou inadequação marcados pelo outro. Olhar em volta é então, verificar o que pode ser apropriado, aproveitado para realizar objetivos, demandas de realização social e econômica.

Transformados em padrões, nos constituimos em referenciais, novos padrões que são obstáculos, limites ou marcas sinalizantes de sucesso. É a desumanização, desaparece a matéria-prima do humano: a disponibilidade/possibilidade relacional. Tudo foi transformado em necessidade, contingência, erro e acerto.

Para estes desumanizados, procurar psicoterapia é uma maneira de buscar melhora para conseguir realizar o que é necessário a um ser humano. Reduzidos às funções necessárias, ao se depararem com questionamentos e globalização de suas problemáticas, surge uma mudança: não existem padrões, existem possibilidades depositadas em referenciais limitadores. Declarar o que se é, saber o que não se aceita é o primeiro passo para o caminho de libertação, para descoberta dos abismos e das dificuldades de realização. Quebrar os padrões às vezes é expor feridas, tanto quanto é libertação. As fragilidades, as não aceitações expressas permitem transformações; elas desaparecem, são erradicadas ou se tornam consistentes demandas recriadoras de novas dimensões, agora aceitas.















 

"Sem Medo de Errar" de Alina Tugend
"Metáforas Históricas e Realidades Míticas" de Marshall Sahlins


verafelicidade@gmail.com

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