Neutralizações

Desejar o que não está contextualizado na própria realidade equivale a desejar o impossível. É uma meta, um sonho, um deslocamento de situação conflitiva, situação frustradora e de não aceitação que desemboca em vazio deslocado e saturado por desejos. Isto cria tensão impede tranquilidade, gera ansiedade e expectativas. Não há como realizar o desejo, tanto quanto não se consegue abrir mão do mesmo. 

Aceitar mortificações, sacrifícios e disciplina são maneiras clássicas de enfrentar estes dilemas, entretanto, o abandono do desejado deixa um rastro de fragmentação, de divisão que passa a habitar o cotidiano sob a forma de insatisfação e frustração. Matar o desejo sem questioná-lo em suas motivações e implicações estruturantes é uma forma de iniciar processos de renúncia e de impossibilidades, é pavimentar caminhos depressores nos quais nada é possível, não se consegue realizar o que se deseja e a constante vivência é a de renunciar para evitar complicações. A permanente estruturação dos resíduos - do renunciado - cria obstáculo, barreira que aumenta os posicionamentos despersonalizadores, consequentemente o isolamento, a solidão, criando assim, mais possibilidades de depressão, tristeza e medo.

Diante do dilema, do possível ou impossível, do desejo proibido ou plausível cria-se uma gangorra que desequilibra. A necessidade do ponto zero, do equilíbrio, é constante e assim, neutralizar é fundamental. O ser humano se transforma em um cemitério de desejos enterrados. As memórias do não vivido, do não realizado, mágica e fantasiosamente enfeitam o não existido. Abrir mão do que se deseja sem questionamentos, apenas considerando impossibilidades e conveniências/inconveniências, é estabelecedor de amarguras, revoltas, inveja e depressão. 

Todo desejo se realiza quando contextualizado no nível relacional dele gerador.



- “Lendo Euclides” de Beppo Levi




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