Nostalgia

Nada é perene, salvo o efêmero. Este aparente oximoro, este paradoxo neutralizado pela continuidade que quebra posicionamentos, é, frequentemente, vivenciado como totalidade nas situações de perda, luto, morte, doença. Os processos são caracterizados pela anomia. Quando se estabelece a generalização, os processos se perdem.

Personalizar é, em certo sentido, segmentar. Ao criar posições, registramos fatos, funções, significados. As notas aciduladas, os sons ensurdecedores quebram a continuidade da harmonia, tanto quanto as definem.

Os rastros vivenciais, significados pelas percepções e memórias, são, mais tarde, transferidos para o outro sob forma de registros: fatos, escritos, músicas, coisas criadas, fabricadas. Estes teares de realização ajudam a construir paisagens, referências. Percebé-los cria lembranças, tristezas, nostalgias, pois, pela insinuação mostram a evidência do outro: autores, participantes.

Lembrar-se de si mesmo, assistir às mudanças e passagens significativas através do outro, principalmente filhos, é uma maneira de reencontrar o efêmero sob a forma de continuidade, de periocidade. Os baús de memória funcionam como referenciais de época, de sonhos e desejos, quando acionados pela perda. A inexorabilidade do processo, quando não aceita, é sempre devastadora. A impotência diante do que não se deseja, quando não aceita, cria vítimas.

Exilados de suas casas, de suas terras - por perseguições políticas ou às vezes por cataclismos naturais - sofrem pela nostalgia, pelo não poder recuperar atmosferas, familiaridades, hábitos e vivenciar as paisagens perdidas. Ao dividir hábitos e histórias com seus descendentes, estabelecem condições para magicamente recriar, de outra forma, os lugares e vivências específicas.

Pessoas jamais são substituídas, embora a manutenção de sua presença, mesmo sob forma nostálgica, as recriem e vitalizem. Os dados relacionais, o voltar-se para, é uma maneira mágica de recriar o não existente. Platão, Aristóteles e Galileu, entre muitos, sempre estão conosco a dialogar.





"O Museu da Inocência" de Orhan Pamuk

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