Comparação



Comparar pessoas implica em mutilá-las de suas características ao encaminhá-las para referenciais nos quais comparar igualdades ou diferenças possam ser estabelecidos. Comparar implica sempre em avaliação, tanto quanto na existência de padrões e instrumentos para sua realização.

Todos nós, como seres humanos, somos iguais pois somos seres humanos. Essa igualdade passa a ser tisnada por incidências contextuais de nosso estar no mundo. Da língua aprendida à época vivenciada, diferenças são estabelecidas. Essas diferenças são fundamentais para identificar características externas, mas nada significam enquanto imanência humana.

A dispensa de diferentes critérios adotados pelos agrupamentos humanos estabelecem limites, fronteiras que vão desde a exterioridade da pele, até o íntimo da fé, da dedicação que caracteriza cada ser humano. Voltar-se para o culto da natureza, esgotar-se nos estudos e preceitos dos livros sagrados, por exemplo, cria sacerdotes, mestres, seguidores de letras, regras e saberes que toldam as vistas impedindo o reencontro do próximo, do irmão, do semelhante. Nesse amontoado confuso é necessário organizar as fileiras dos próximos, dos distantes, dos fiéis, dos infiéis e assim surgem critérios e dogmas. A frequência e persistência dessas regras, dessas leis constroem valores que permitem comparar e decidir o que é próximo a nós e o que é distante ou ameaçador. Nesse momento as comparações são realizadas e levam a encontrar o bom e evitar o mal. Viver entre os iguais é o objetivo harmonioso que sugere discriminação, violência e terror.

Ser igual é ser diferente de nada, desde que se é único. A igualdade possibilita a unidade quando não existe comparação. Não havendo avaliação, utilização do outro em referenciais e aprisionamento alienante, não existem quebras, não existem fragmentações; cada ser humano é único e assim igual ao seu semelhante. É como se disséssemos que 1 = 1. Não há alteridade para encaixe, o outro é o mesmo, tanto quanto o mesmo é outro equivalente. Diferença implica em outro, que é o semelhante, nesse sentido, o diferente é o mesmo, enfim, esse conceito de diferente, estranho a si, não existe quando não se realizam comparações.

Atualmente, a discriminação sofrida pelos imigrantes, os negros, os judeus, as mulheres, os pobres, os ricos, os diferentes, os considerados desviantes ou fora do padrão, que tanto ameaçam e desagradam aos que os odeiam ou invejam, mudaria se comparações não fossem realizadas. Comparações são totalmente impossíveis, desde que não se pode comparar o que é único - consequentemente igual.


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