Desprendimento



Abnegação e renúncia frequentemente escamoteiam medo (omissão) e impotência, tanto quanto se constituem em investimento para realização de papeis sociais como os de pessoas de boa alma, simples criaturas nada ambiciosas mas capazes de ajudar o próximo, justificando as instituições que as amparam.

Desprendimento é generosidade. Existe apenas quando exercido por pessoas disponíveis. O não estar comprometido, o não estar voltado para o depois, permite que se seja desprendido frente a obstáculos e impasses. Abrir mão é neutralizar o conflitivo, tanto quanto abdicar é permitir o aparecimento de outros processos, outras configurações, nas quais novas realidades e motivações se desenvolvam.

Quando os conflitos são neutralizados inauguram-se outras esferas para a continuidade e ela é restauradora: o quebrado é transformado. Abrir-se ao novo, tanto quanto possibilitá-lo, depende de perceber o outro, seus impasses e dificuldades. Este caminhar junto, acompanhar é empático, é simpático.

Abnegados, renunciantes, não são desprendidos. Eles estão comprometidos com resultados a alcançar, eles galgam montanhas para substituir o dado, o renunciado, pois ao atingir o bem maior tudo será em dobro ressarcido. Não pode haver desprendimento se existem polarizantes, ou seja, o desprendimento só se realiza no presente enquanto presente. Havendo futuro - o que atingir - ou passado - o que renunciar - não há desprendimento. São investimentos, são comprometimentos. É a generosidade comprometida pela gratidão ou pela recompensa, mesmo que em outros mundos.

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