Desacertos e regras




Quando existe não aceitação de si e dos problemas resultantes dos compromissos e obrigações cotidianas, surgem desespero e frustração, e nesse contexto é comum o deslocamento de problemas, chegando mesmo a ocorrer imobilização por doenças que inviabilizam o dia-a-dia e criam novas rotinas.

Assim, após esse descanso, essa descontinuidade ocorrida pelos deslocamentos, pelas doenças, o indivíduo retoma suas atividades, suas funções muitas vezes execradas em relação à família por exemplo, ao trabalho e até mesmo aos filhos. Na retomada dos afazeres e relacionamentos é necessário apoio, uma base que permita ação, desde que a motivação é impossível diante do que aborrece, do que não se gosta. Neste momento a culpa aparece e é uma varinha de condão eficiente para organizar o cotidiano, para criar regras, determinar o que se pode e o que não se pode fazer, e então, pelas regras adotadas e cumpridas, atinge-se paz e tranquilidade. 

As regras também exigem preocupação, cuidado, ocupam o tempo e preenchem o vazio. É quase o TOC para sobreviver. Repetir, garantir, fazer de novo, realizar o certo, o devido traz bem-estar, aplaca o Ego e justifica o estar vivo.

Acontece que tudo é dinâmico e a repetição cria círculos viciosos cada vez mais estranguladores. Novas doenças, novas paradas, até que o equilíbrio seja instaurado.

Transformado em objeto de si mesmo, dividido cada vez mais, vem a fragmentação e, descontinuado, o indivíduo se perde dele próprio e vive em função do que é programado, do que lhe é determinado, um robô frio e insensível pelo mecanicismo que instala, mas que aguarda a absolvição final: de Deus, quando é crente, ou de suas vítimas/algozes, pois tudo que faz ou não faz é para eles, sempre se justificando e explicando que foi por amor, por responsabilidade e zêlo ao próximo, à família e amigos.

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