Insaciabilidade
É insaciabilidade querer conseguir mais para garantir o próprio futuro e segurança, para não morrer por falta de cuidados. Esperar o pior e o súbito e estar para eles preparado é o objetivo característico dos processos de não aceitação de limites, de não aceitação de impossibilidades e da realidade.
Viver sozinho e querer a qualquer momento ter alguém apto a ajudá-lo, por exemplo, é desespero configurado pelo impossível desejado. Para esses indivíduos, deve acontecer o que é necessário em função de seus problemas e demandas que precisam ser resolvidas, não importando o fato de não existir condição para satisfazer esses desejos; o que importa é acontecer o resultado almejado. A vivência desse constante impedimento, causado pelo paradoxo não atendido, cria atitudes de expectativa, de ansiedade, orientadas para predar. Dos filhos, empregados, sem esquecer os vizinhos e amigos, todos são vistos como reservas para as horas difíceis. Os estoques do que pode ser utilizado acarretam também aumento da ansiedade de guardar, catalogar e ter à mão para usar.
As atitudes de predação variam em função dos contextos e estruturas individuais envolvidas nesse processo. As cobranças familiares aparentemente inócuas, os relacionamentos interesseiros, a violência, usurpação ou melífluas palavras, tanto quanto ambíguos gestos e comportamentos, caracterizam essa insaciável utilização do outro como ponto de abrigo, apoio e uso.
Nada basta, tudo é pouco, pois os indivíduos se transformaram em buracos, em vazios com expectativas, que quando preenchidos expelem resíduos destruidores do conseguido e assim necessitam ser aplacados. É como um fole: comprimido e descomprimido na tênue divisa da insegurança e medo.
Essas fronteiras balizam o dia-a-dia. As pessoas vivem para conseguir, verdadeiras aves de rapina cujo vôo rasante tudo danifica, ou pequenos roedores que tudo amealham. Quanto maior a insaciabilidade, maior a insegurança, a ansiedade, o desespero e a falta de iniciativa, salvo nos momentos nos quais recolhem seus ganhos e investimentos, mas, mesmo assim, quando isso acontece, a intranquilidade surge sob a forma de medo, de ameaça de perder o conseguido. Esse processo requer alívio e assim surge a necessidade de apoio: dos químicos aos alimentares. É o vício, é o deslocamento da ansiedade por meio de drogas lícitas ou ilícitas, da alimentação ou exercícios para neutralizar tensões e medos.
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