Consumir




Cinquenta anos atrás, consumir era sinônimo de alienação. Atualmente, consumir é um vetor de realização social. Quanto maior o consumo, maior a riqueza e a possibilidade econômica. Hoje em dia é por meio do sucesso econômico que se constrói o lugar social e nesse sentido os que não são bem sucedidos são alijados. Consumir é significar. Esse fazer parte individualiza por meio do pertencimento à equipe, é o team que se estende até a locais de entretenimento ou de moradia. No livre mercado o que importa são as moedas de transação. Ter o que vender e poder comprar estabelecem circuitos nos quais circulam o necessário, mesmo que indevidamente. Os que estão na base da pirâmide servem de apoio para que poucos atinjam seu topo.

Tudo pode ser consumido, do próprio corpo à própria cabeça e alma. Autoconsumir-se obriga à criação de aparência, utilizando imagem, apoderando-se de narrativas sancionadas como edificantes e válidas. Esse processo canibaliza e esvazia, expressando-se de diversas maneiras, até mesmo nos conflitos cotidianos entre as pessoas.

O ser humano consome seus dias, consome suas possibilidades ao colocá-las a serviço da sobrevivência, sem endereçá-las para questionamento e transformação, pois está estabelecido em dogmas, regras repetidas principalmente pelos deveres e culpas.

Comentários

Os mais lidos

Polarização e Asno de Buridan

Oprimidos e submissos

Sonho e mentiras

Formação de identidade

Zeitgeist ou espírito da época

Mistério e obviedade

Misantropo

A ignorância é um sistema

“É milagre ou ciência?”

A possibilidade de transformação é intrínseca às contradições processuais