Imprevisto
O que não foi imaginado, ou ainda, o que não foi considerado, se constitui no imprevisto que neutraliza processos ou que, ao criar contradições, transforma em impasse a continuidade. Tsunami, morte, acidentes são imprevistos do ponto de vista de quem os sofre, tanto quanto são meras decorrências e continuidades processuais. Pensar que certas coisas estão fora de cogitação cria outras modalidades que açambarcam expectativas, escondem evidências e passam a ser vivenciadas e percebidas como imprevistos. Viver em função de objetivos, de resultados unilateraliza e assim fica-se cada vez mais à mercê dos imprevistos.
O vencer ou vencer, o não ter condição de aceitar perdas vulnerabilizam. Transformar inúmeras variáveis em poucas ou únicas possibilidades é esvaziador. A certeza é um aniquilador de possibilidades quando passa a se constituir em apoio. A variação infinita e ambígua resulta da falta de referenciais estabelecedores de sua dinâmica. Não há eixo, tudo pode acontecer. Essa possibilidade em aberto exaure a estabilidade e só permite ordem por acréscimo, por escoamento. É a liquidez, o derrame que não se sabe onde acaba e seus parâmetros são imprevisíveis, já não dependem de sua estrutura mas sim do que a suporta.
Dependência, submissão, insegurança, medo, angústia e culpa são determinantes de impossibilidades para a própria vida, não se sabe o que o outro, que controla e sustenta desejos, determina. Processo de despersonalização entre casais, também encontrado nos filhos educados para o futuro e para o sucesso, são responsáveis por imprevistos que vão desde a dedicação à vícios, drogas lícitas ou ilícitas, até ligações que destróem e iludem, enfim, “fazem o mundo cair”, como por exemplo as vítimas de golpe do baú, que são pessoas enganadas que realizam esta imprevisibilidade de estar no mundo à mercê da realização de sonhos e desejos. Compreender, tolerar, concordar são as ferramentas que amarram os nós das cordas das marionetes.
Imprevisibilidade é o que decorre da dependência, carência, medo, quando os indivíduos abrem mão de sua autonomia, quando não enfrentam os próprios problemas, quando seguram, por oportunismo, por conveniência, as mãos que lhes são estendidas.
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