“A beleza é uma prótese”




Esta frase anônima - “A beleza é uma prótese” - é aparentemente estapafúrdia, desconexa, pois beleza sempre está associada a harmonia e elegância, enquanto prótese remete a doença, falha e incapacidade. Caso nos detenhamos no significado fundamental de aparência e imagem perceberemos significados que unificam esses conceitos, encontraremos conexões harmônicas e não mais situações desconexas.

As próteses existem para compor, para corrigir. Esse criar de funcionalidades neutraliza impedimentos, harmoniza e deixa fluir condições comprometidas, e portanto, pensar a beleza como prótese implica em considerá-la apenas como uma imagem, uma máscara funcional.

Acontece que a beleza é intrínseca, é uma resultante harmônica de diversas configurações e nesse sentido jamais uma prótese. Quando se pensa nela como imagem ou prótese é por transformá-la em cópia, em soma de partes privilegiadas e segmentos compostos para totalizar o que alguns entendem como beleza, resultando em processos como: colocar silicones, diminuir queixos, aumentar pilosidade na barba, retirar acúmulo de adiposidade etc.

O todo não é a soma de partes. Quando se aglomera e justapõe ítens - totalidades enquanto eles próprios - para conseguir resultados finais, só então, se pode falar em prótese, em criação de imagem.

A prótese é sempre uma correção em função de limitações, não há valoração de resultados, apenas necessidade de mudança, acomodação e contorno. Quando se busca a prótese é para construir, para administrar a falha, a falta e quando isso é valorado em função de resultados que se quer atingir, chega-se ao grotesco: a beleza é uma prótese tanto quanto qualquer processo intrínseco se transforma ao ser manipulado em função de outros referenciais. Por exemplo, os processos de branqueamento (Michael Jackson) ou os de ocidentalização dos olhos orientais, ou ainda certas intervenções feitas para conseguir cães e gatos mais belos e funcionais.

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