Percepção do Outro - Deus percebido como o outro X

 

A vivência do mágico, do irreal, do absoluto, com frequência é o faz de conta para tudo remediar. Estar impotente, sem saída, desesperado, tanto quanto esperançoso, tendo jogado todas as fichas no depois, no futuro, em alguém, absolutiza o relativo, cria deuses e Deus. É o faz de conta que as coisas vão se resolver. "A esperança é a última que morre", "a esperança ilumina e sustenta a vida", "os bons vencem, Deus ajuda", enfim, existe um infinito arsenal de conforto. São os equivalentes de drogas lisérgicas, lícitas e ilícitas que reconfortam, fazem esquecer o estar no mundo com o outro. Esse esquecimento custa caro. Ele aliena e isola, resume todas as distâncias que se faz em relação a não aceitação do outro como semelhante, a não o perceber e consequentemente se pontualizar. A ideia ou sensação de Deus desafia, complementa, seda, anima, protege, escraviza, divide e nega os limites da realidade. Deus pode ser pensado como transcendência, jamais como o outro. Essa antropomorfização é danosa, aderente e solapadora de humanidade.

Não esquecer que foi a ideia de Deus, a luta em seu santo nome que estabeleceu a Inquisição, tanto quanto é a ideia de Deus que divide o mundo em fiéis e infiéis. E ainda, é a ideia de Deus que faz o ato de terror, o sacrifício de vidas ser a excelsa celebração de seu nome. Tudo isso acontece em decorrência da ideia de Deus antropomorfizado, deixando de ser transcendência e passando a ser limite, divisor de águas, fragmentador de povos e famílias, criando assim, campos de concentração, patíbulos e zonas de apedrejamento para mulheres infiéis.
 

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