Ignorância


 

Não conhecer, não discriminar, ou seja, a ignorância é a responsável pelo posicionamento. Isolar-se nos próprios referenciais e traduzir o mundo a partir dos mesmos é falar uma língua, desenhar direções, estabelecer critérios impossíveis de compartilhamento. Posicionado em seus referenciais e critérios o ser humano se isola e então precisa estar sempre pendurado em redes que o identifiquem e protejam. Desse modo ele é um apoiador ou um contraditor. Ele é rótulo, e também rotulado. É vítima e é agente.

Não conhecer resulta de não questionar, não ampliar referenciais e assim só se pode viver em locais conhecidos, determinados e rotulados. O ignorante é o que se candidata às aflições e desespero humano que vemos no auto-sacrifício, no egoísmo, no apego, no poder e sucesso, na aversão e no medo da morte.

Ignorante é o que não se percebe como ser humano com possibilidades e necessidades. Ignorante é o que acha que ao satisfazer as próprias necessidades tudo estará resolvido, isto é, se realizará como sobrevivente, negando sua condição humana. Sobreviver feliz, rico e satisfeito é o grande desejo dos que ignoram suas infinitas possibilidades humanas. Ao ignorar sua humanidade o indivíduo se candidata a ser algoz de si mesmo e de seus semelhantes, pois o mundo é transformado no salve-se quem puder. Para eles vida é luta, luta é vitória, vitória é destruir o que atrapalha e rivaliza.

Satisfazer necessidades em detrimento de possibilidades é ignorância por excelência. É a redução da individualidade aos mecanismos primários e secundários de fome, sexo, sede e sono, por meio de satisfação, prazer, segurança e bem-estar.

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