A guerra embrutece

Duelo com Mocas, Francisco Goya, Museu do Prado, Madri
Duelo com Mocas, de Francisco Goya, Museu do Prado, Madri



Recentemente assisti o filme "Nada de Novo no Front" e é nítido como a guerra embrutece e como o desespero leva o ser humano às últimas consequências. O filme mostra o resumo completo e final da destruição dos homens pelos homens, que se destroem apenas por estarem em lados, regiões, países diferentes.

Não é só na guerra que existe embrutecimento. Ele é diário, cotidiano. O indivíduo despersonalizado, autorreferenciado, por exemplo, por sua não aceitação desenvolve metas de ser rico, ser famoso, ser amado, acreditando que assim será aceito. Em função desses "grandes propósitos" tudo é construído e destruído, pois o que atrapalha propósitos e projetos não deve existir. Nesse contexto, é muito comum o embrutecimento, e assim filhos são abandonados, pais octogenários são dispensados ou incinerados nas piras do "melhor cuidado".

A ideia de que a vida deve continuar, o show não pode parar é embrutecedora. É guerra contra tudo que não vai ajudar ou incentivar os próprios projetos, que pode simplesmente ser o plano de ter o dia livre para terminar de ver a última série no streaming preferido. Viver para o prazer, para o melhor resultado, para o bem estar é embrutecedor por ser uma guerra diária que se faz contra os outros, para garantir o próprio espaço, vantagens, lucros e conquistas. E quando isso é ameaçado, fazer qualquer coisa para defender o conseguido.

O embrutecimento é o que resulta quando se luta por resultados de vitória, quando se foge da derrota, quando se tem padrões e regras a preencher e atingir. Muito além da guerra, o embrutecimento está no cotidiano quando não existe constante aceitação dos próprios limites, das próprias dificuldades, capacidades e incapacidades. Voltar-se para o futuro ou viver em função do passado, é embrutecedor, nega possibilidades e disponibilidades, destrói o outro enquanto encontro e questionamentos. 

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